ANTÔNIMO
Renata Cabral

Sim. Não. Avanço. Retrocesso. Mudança. Estagnação. Vida. Morte. Felicidade. Tristeza. Amor. Rancor. Paz. Guerra. Utopia. Realidade. Profundidade. Superficialidade. Lembrança. Esquecimento. Coragem. Covardia. Sr Antônimo sentira-se a vida inteira assim: como se imerso em um círculo de palavras paralelas entre si. A começar pelo próprio nome. Por um erro de dicção de seu pai, Antônio virou Antônimo. E o que era para ser o seu nome virou sua maldição. Sentia-se como carregando uma carga pesada por onde quer que fosse. Parecia que estava fadado a uma vida abundante de antônimos redundantes. Casamento. Divórcio. Casou-se ainda novo com Maria que nunca havia se importado com o seu peculiar adjetivo. Até conhecer José. José e Maria. Amor e ódio. Ela o deixou e foi morar com José, levando seus 3 filhos, que nunca mais viu. A casa que antes era cheia agora ficou vazia. Pensou na vida. Pensou na morte. Lembrou-se do dia em que foi contratado na firma de calçados que acabara de se mudar para a cidade. Seu coração em festa. Esqueceu-se de como fora demitido quando a empresa faliu. Sua alma de luto. Maldito o dia em que nascera. Bendito seria o dia em que morreria. Antônimo era sinônimo de uma existência inexistente. Nunca tentara mudar de nome. Aceitara de bom grado a sina que seu pai escrevera e se estagnara em seu mundo de inversões. Acreditava que a vida era mesmo assim: um círculo em que as circunstâncias se repetiam e o deixavam cada vez mais quadrado. Talvez se tentasse ser infeliz conseguiria a tão sonhada felicidade, já que sua vida era às avessas. Só de pensar que deveria se esforçar para ser infeliz, cansou-se. Já que tinha a infelicidade naturalmente, para que buscá-la conscientemente? Vida difícil a dele. Mas entre tantos devaneios, em um lampejo de consciência sorriu. Sorriu, e sorriu e sorriu. E em meio a tantos sorrisos, lágrimas escorriam-lhe pelo rosto. 

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