ENTREGO OS PONTOS
Míriam Salles
Há guerras e guerras.
Algumas se travam na terra, outras se travam no ar, outras ainda, são internas.
Vivo em constante conflito comigo mesma. Discuto com meu ego cada vez que ele teima em se mostrar. Debato com meu lado oculto cada vez que ele teima em se isolar. Mas é assim que vou resolvendo minhas dúvidas e achando soluções para os problemas do dia a dia.
Claro que tenho que dar chance às minhas personalidades secretas de se expressarem senão vira uma ditadura corporal, manda aquela que assumiu o
'bodyguard'.
Não sou psicótica não, mas sei que tenho em mim várias mulheres.
Tem aquela que é a ativista política, que não pode ver uma briga que se veste de
guerrilheira e sai a frente da batalha. O problema é que por trás dela, fornecendo informações, está aquela que é a poeta, aquela que sonha com um mundo onde tudo é paz e harmonia. Carregando o manual está a leitora compulsiva que na ânsia de ler tudo, pula metade das palavras e
obviamente perde metade do que está escrito.
Tem ainda aquela que a dona de casa, perfeccionista, que passa o dedo nos móveis e procura pelo em casca de ovo. Tem a cozinheira que se esmera em preparar pratos deliciosos para a família, mas tem também a preguiçosa que faz miojo nas tardes de domingo. Tá certo que algumas menininhas adoram o miojo da tia, mas essa já é outra personalidade, aquela que adora receber gente em casa. Tem uma que adoraria se esconder debaixo dos cobertores e não ver ninguém.
Tem a alcoólatra, tem a meiga, tem a ácida; tem até uma que é muito chata e tira das prateleiras das lembranças casos do tempo do onça para justificar atitudes.
Tem a mulher apaixonada, uma das que mais gosto, que se derrete e se entrega inteira quando se sente à vontade.
Tem a amiga, outra das minhas preferidas, que adora agradar aqueles de quem gosta e o faz, sempre que pode.
Tem a última, a mãe. Essa é sem dúvida a minha melhor parte, a que deu mais certo. Sinto uma felicidade enorme quando encontro meus filhos na escola e vejo como se orgulham de mim, como se sentem livres para me tratar como a uma igual, mas também com todo o respeito que se deve ter para com a mãe.
É nessas horas que eu me rendo a esse amor incondicional e me declaro vencida.
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