SEM MANCHAS
Marcos Woyames de Albuquerque

O som abafado do estampido mau chegou a ser ouvido.

Escuridão!

Nada mais fazia sentido! 

A família, os amigos, a empresa... os objetivos de vida, tudo jogado fora.

Uma mulher linda. Amigos fiéis. Empresa promissora.

Não explicou, não escreveu, não comentou, apenas executou seu tresloucado gesto. 

É totalmente desconhecida a razão de seu ato. Apenas ele a tinha. Apenas ele a sabia. Uma razão só sua!

O quarto totalmente arrumado, tudo em seu devido lugar.

Seu corpo foi encontrado ao lado da cama. Um filete da sangue escorrendo de seu ouvido direito.

Manchada com seu sangue, uma toalha de banho branca, envolta em sua cabeça, impedia que o sangue manchasse o tapete do quarto. Não queria mais manchas. Não queria que as manchas de sua morte manchassem as vidas que aqui ficavam.

Segundo o perito, aparentemente ele não quis e não sujou o ambiente... um homem perfeccionista.

A arma em sua mão e os vestígios de pólvora, identificados pela perícia, não deixavam qualquer dúvida.

A bala penetrou na cabeça e seus fragmentos espalharam-se por todo seu brilhante cérebro empresarial. Sim, brilhante, magnífico, inteligente, perspicaz, corajoso... um empresário impecável!

Dia, noite, semana após semana, negócios e mais negócios.

Respeitado pelos parceiros, temido pelos adversários... um homem empresa.

Almoços, jantares, reuniões, festas, finais de semana... um homem empresa.

Sua vida pessoal, familiar e social... deixada de lado em prol da empresa.

Dezenas, centenas de pessoas no velório. Filhos inconsoláveis, amigos inconformados... apenas a viúva consolada por um desconhecido.

Missa de sétimo dia... filhos inconsoláveis, amigos inconformados... apenas a viúva consolada pelo desconhecido.

Sua vida pessoal, familiar, social e empresarial... deixada de lado em prol da razão de seu gesto!

Ninguém jamais soube a razão. 

Só ele sabia!

fale com o autor

Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.