DENTRO DE MIM
Márcia Ribeiro

A emoção contida, retraída, faz-se sussurrante para dizer-te:

- Como tenho desejado você! Como eu o quero agora!

E a razão fala alto, espalhando uma irritante sabedoria aos quatro ventos:

- Nem mesmo sei se quero tanto desejo realizado, tamanho é o meu medo de perder-te e o que de mais importante representas para mim.

Trouxestes isso de bom em mim, a transparência desavergonhada dos meus sentidos.

Estes mesmos sentidos que se aquecem, desejando com todo o ardor o homem que nem pediu licença para entrar em minhas fantasias, que nela vive despudoradamente.

A luta tem sido bárbara entre a razão e a emoção.

E se estou aqui em pleno poder do uso da minha transparência para com você, é somente porque dentre as muitas batalhas que tenho travado, entre fazer-te emoção ou deixar-te razão, feliz ou infelizmente, rendo-me à razão das razões. 

E sigo em frente, rindo, entre lágrimas, das confissões permitidas, dos sofrimentos confessados, dos prazeres invejados, das gargalhadas por mim, do mau humor por não ser atendido, do silêncio atento ao me ouvir, da serenidade ao me aconselhar, da briga por não entender, da provocação infantil do homem, da provação que me fazes passar, da tamanha saudade que sinto mesmo quando estás aqui, do argumento vencido, do que me ensinas, do que aprendes, da raiva que me dá, da paz que me oferece, do pressentimento de que hoje acabou, da felicidade de chegar amanhã, da falta de tempo, de todo o tempo do mundo, de sua ida, de seu certo regresso, do rasgar em meu peito quando o seu se rasga, de sua proteção, de seu desalinho, de sua voz zangada amansando quando ouve a minha, do Bom dia!, do Boa tarde!, do Até amanhã!, da minha vontade do Boa noite!, da vontade de soletrar que te amo, e tanto, e tão profundamente... 

E fica no meu peito essa triste felicidade de saber-me amada por você.

Amo-te, meu mais nobre amigo!!! 

Mas talvez eu não suporte conhecer e perder o homem que se apresenta em você.

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