GRUPO UM OU GRUPO 2?
Caio Beraldo
Aluguei um filme que trata basicamente de uma invasão extra-terrestre. Trash, não!? Bom, nem tanto... o que vale a pena nele não é a história, mas o desenvolvimento dos personagens! É como no Titanic: seria um filme-tragédia, mas o diretor conseguiu mudar o foco do naufrágio para o romance entre os dois personagens principais.
Bom, direto ao assunto, um diálogo me chamou a atenção no meio do filme, entre o personagem principal (um ex-reverendo que perdeu sua fé em Deus depois que sua mulher morreu de uma maneira fútil) e seu irmão. Durante uma transmissão de TV que falava da invasão, o irmão pede ao ex-reverendo que o conforte naquele momento de pavor. O diálogo que se segue realmente me fez pensar:
Existem dois tipos de pessoas: as que pertencem ao Grupo 1 e as que pertencem ao Grupo 2. Quando passa por alguma situação de sorte, de acaso, o Grupo 1 vê algo mais que apenas sorte, mais que só coincidência. Eles tomam aquilo como um sinal de que existe alguém que está cuidando deles. Já o Grupo 2 vê apenas como um acaso feliz, pura sorte!
No caso do filme, o Grupo 2 estaria olhando para as luzes no céu de uma maneira suspeita. Para eles, as possibilidades estão meio a meio: aquelas luzes podem significar algo bom ou algo ruim. Mas, por dentro, as pessoas deste grupo sabem que, qualquer que seja o caso, sendo a situação boa ou ruim, elas estarão sozinhas, contando apenas consigo mesmas. E isso as enche de preocupação.
Já as pessoas do Grupo 1 têm uma inclinação maior a pensar que não devem temer tais luzes. E, mesmo que a situação se torne ruim, elas têm certeza de que haverá "alguém" lá, olhando por elas, ajudando-as, e isso as enche de esperança.
Numa situação crítica como a do filme (o provável fim do mundo), uma pessoa do Grupo 1 passaria suas últimas horas talvez não totalmente sem medo, mas certamente muito melhor que uma pessoa do Grupo 2, que já entraria em pânico ao perceber que ela sozinha não poderia fazer nada.
E onde eu me encaixo nisso tudo? Eu concordo que é bem melhor ser uma pessoa do Grupo 1, que tem algo a que se agarrar nos momentos em que tudo parece perdido. A esperança pode amenizar o medo que as pessoas sentem quando acham que estão num beco sem saída.
Mas acontece que eu sou uma pessoa do Grupo 2. Agora tratando diretamente do assunto, acho difícil acreditar em alguma força superior que está lá para nos guardar. Por toda a minha vida eu vi coisas que me convenceram de que tal força não existe. Na verdade, nem cogito a possibilidade dela existir.
Apesar de concordar que é melhor ser do Grupo 1, não é de uma hora pra outra que uma pessoa muda de grupo. Acho que aceitar o Grupo 1 seria acreditar que existe destino (apesar de eu achar esta palavra um pouco forte), que o acaso não existe. Tudo acontece por alguma razão, numa hora determinada. Tudo tem um sentido.
Na minha opinião, o porquê dos acontecimentos, da maneira como me foi explicado por alguns religiosos, é complexo demais para ser verdadeiro. Claro, ninguém disse que seria fácil entender o sentido das coisas, mas alguns valores simplesmente me parecem impossíveis, e alguns até bobos. Para mim, muitas coisas são apenas placebos: algo que não tem qualquer efeito, mas se uma pessoa acreditar de fato que tal coisa possa ajudar ela acaba sentindo-se melhor.
Mas se existe uma coisa que de fato faz a pessoa sentir-se melhor, realmente importa se ela é verdadeira ou não? Às vezes queria conversar com as pessoas sobre estes assuntos, mas sem que alguém quisesse me convencer ou me "converter".
Ainda procuro pelo sentido das coisas, e estou aberto a qualquer argumentação. Mas eu sou um tanto cético demais para render-me a teorias que não podem ser provadas cientificamente. E, às vezes, confesso, lamento por não poder acreditar em algo que não posso ver.
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