RENDIÇÃO NO CONDICIONAL
Bárbara Helena

 
 

 

Minha rainha,

Não dá para esqueceres o passado que te maltrata, pensar apenas nas coisas boas e voltar pra mim ? Lembrar da varanda da paixão, dos passarinhos na janela e de tudo que vivemos em Paquetá? 

E do hotel escondido em Friburgo, do cobertor que escorregava, revelando teu corpo nu e arrepiado, não pelo frio, mas pelo nosso amor?

Estou te mandando a música, do primeiro dia dos namorados. Aquela que dançamos juntos e malucos de tesão, teu vestido colado na minha pele, tuas coxas duras. Teu cio de amor. Quando não havia tanta minhoca na tua cabeça. 

Para de jogo duro, meu chamego, tu sabes que, para mim, és a primeira, quer dizer, a única, a eterna e verdadeira, o resto é fofoca e enganação. 

Atende ao telefone, liga o celular, esquece este negócio da Dona Laurinda, uma moça que sempre te respeitou e admirou, querida, deixa de onda. Se tu vais cismar com todas as vizinhas, vamos morar numa cabana, no meio do mato, sem telefone, luz, ou civilização. Assim tu acreditarás quando te digo que não há neste mundo de meu Deus nenhuma outra mulher para o meu corpo e o meu coração. 

Vem, minha prenda, para com isto, volta pra mim. 

Responde esta carta pelo Ali Babá, que apesar das tuas implicâncias, gosta muito de ti e quer nos ver outra vez felizes juntos. 

Estou te anunciando a minha total e absoluta rendição.

Depões as armas ou vamos continuar a guerra em que nós dois perdemos?

Do teu para sempre,

Alfredo

 

 

 

Alfredo,

Sim, eu lembro do passado que foi bom, mas não esqueço do principal. Já te disse mil vezes que memória não me falta e não é seletiva. 

Vamos voltar, concordo, estou ouvindo a música e me derretendo, sabes tudo de mim. E acredito nas tuas mentiras, quero acreditar, que importa? se o corpo sente falta, a pele queima, o coração dispara, eu toda pego fogo de lembrar.

Mas tenho condições bem claras para tua rendição:

Voltar ao emprego no Banco, que largaste com a desculpa da coluna torta (mas nunca te impediu de debruçar em cima do pano verde na sinuca ou de experimentar todas as posições do kama-sutra na cama). 

Esquecer o jogo, a cachaça com os amigos nas sextas-feiras, dar um tempo no Ali Babá ( teu fiel escudeiro das sacanagens, não vem me defender o traste, porque você eu perdôo mas amigo fingido não, alguém tem que pagar o pato, meu moreno ).

E, principalmente, definitivamente, irrevogavelmente, esquecer da Laurinda em qualquer situação. Mesmo que se afogue no tanque, seja atropelada na tua frente ou perca todo dinheiro no bicho. Ainda que sofra um ataque no meio da rua e sejas o único na calçada, mesmo que engasgue no próprio veneno, mesmo que caia dura e preta do teu lado, vais ignorar. Com a Laurinda, meu caro, nem bom dia na fila do elevador. 

As outras mulheres não conheço. Odeio todas também. Quero que morram roxas na véspera de  te  encontrar, mas dou desconto. O que os olhos não vêem , coração não sente. Embora os meus sejam vigilantes, pode  crer. Batom na camisa e suspiros na madrugada em telefonema enganado, nem  pensar. Acabou a farra da boazinha. Esta nova mulher tem garras  e  dentes, coração. 

É pegar ou largar.

 

 

 

Meu quindinzinho,

Eu te adoro para sempre. És única e insubstituível no meu coração. 

Mas, por enquanto, vou preferindo a nossa guerra. Com as tréguas que concedes sem tantas condições. 

Teu sempre,

Alfredo

 

 

 

Alfredo,

Eu  sabia, meu caro.  Foi carta marcada, pôquer feminino.  Teu amor  é  paraguaio.  É verbo  no  condicional.  Vamos  de  entradas então. Até  aparecer o prato  principal.

 

 
 

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