DESENCONTRO
William Stutz

Mesmo morando na mesma cidade, no mesmo bairro, na mesma rua nunca tinham se visto.

Um procurava o companheiro ideal, amoroso, companheiro, aquele com o qual ficaria até que a morte os separasse.

Outro procurava aventura, risco. Compromisso nem pensar. "Viver  e não ter a vergonha de ser feliz..." cantava sempre, sentia uma alegria que chegava a doer e não se envergonhava disso. 

Um apoiou Davos o outro foi acampar em Porto Alegre e já economiza para viajar para a Índia.

Um queria casa, carro do ano, conhecer a Europa e os Estados Unidos em excursões de turismo. Outro queria fazer o caminho de Santiago de Compostela de mochila nas costas e conhecer Ushuaia.

Um gosta de Ópera, música clássica, canto Gregoriano - conhecia a vida e obra de Guido d'Arezzo de cor e salteado. Outro era MPB pura, Beatles, Pink Floyd, Genesis.

Um era apaixonado com Machado de Assis, Alan Poe, Victor Hugo, Dante. Outro chorou quando leu O Jogo das Contas de Vidro de Hermann Hess e seu livro de cabeceira era Bom dia para os defuntos.

Um lia Exame o outro A Folha.

Um dia se encontraram, apaixonaram, namoraram e quase se casaram. Quase. Não podia dar certo.

Um era atleticano o outro, AI NÃO! era cruzeirense.

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