EDUCAÇÃO FÍSICA
Ricardo Augusto Santos
Eta, tempinho bom!
Uma das coisas mais marcantes na vida de um homem é, indiscutivelmente, a aula de Educação física. E não pensem que é simplesmente porque a professora é gostosa e usa pouca roupa. Existe toda uma mística envolvida no evento.
Eu lembro muito bem. Todas as terças e sextas (vejam só que dia! Bem na sexta!) após horas incrivelmente maçantes de matemática, ensino religioso e até da famigerada educação Moral e Cívica - onde a feiúra da professora já era falta de educação - a alegria que arrebatava nossos corações quando o sinal evocava automaticamente nosso grito de liberdade contida rumo à diversão. A algazarra e balbúrdia em que consistia a cena em que nos acotovelávamos pelos corredores derrubando qualquer obstáculo a frente (podia até ser uma madre!).Ah! os chutes na bunda do Nestor... Era hora da alegria! Que começava, obviamente, por um minucioso exame nas meninas com shortinhos curtos. Era Aula de Educação Física! Que saudades...
Mas o bom é que certas coisas nunca mudam. Semana passada, enquanto me preparava para mais uma atividade adulta e chata (reunião de negócios com o diretor de uma escola) tive a oportunidade de, por quinze minutos, presenciar uma aula de educação física dos alunos. E tudo estava lá, do mesmo jeito, como eu havia deixado trinta anos atrás. Ah! Os chutes na bunda do Nestor...
Os mesmos rostinhos contentes. Todos efusivos, elétricos; com exceção, é claro, aos tipos, sempre presentes, que abominam qualquer tipo de exercício, representados pelo nerd, pelo viadinho em potencial e pelo gordinho que é achincalhado por todos. Estes espécimes devem
— podem reparar — obrigatoriamente receber os respectivos nomes de Sydnei, Nelson e Nestor. Seres malignos que, dentro da sala de aula, ignoram os outros alunos. Disparam olhares fulminantes de desprezo por trás de suas lentes de fundo-de-garrafa; dedam para a professora que foram chamados de flor do láscio pela classe e fazem com que todos (menos ele) percam o recreio e respondem às perguntas com a boca cheia de bolacha água-e-sal espalhando uma estranha névoa de farelo e baba pelo ambiente. Fora dela, na educação física, são menosprezados, esquecidos, são dejetos inúteis que não conseguem sequer virar cambalhota sem a ajuda da
"tia"; que têm crises de asma jogando queimada e que torcem o pé fazendo polichinelo. Ah! Os chutes na bunda do Nestor...
No pólo oposto, existem sempre os manda chuvas da Ed. Física. Aqueles garotos por quais todas as meninas são caidinhas e que se dão bem em todas as modalidades esportivas; da peteca ao futebol. Estes deverão chamar-se Rodrigo, Bruno e Henrique; andarão sempre juntos, barbarizando todos os alunos com atenção especial para os três tipos anteriores e especialíssima para o Nestor (o gordinho) que tem a bunda mais macia para ser chutada. Certamente também serão burros, motivo pelo qual, pelo menos uma vez por bimestre deixem de puxar a cueca do Sydnei, pintar o Nelson de rosa e chutar a bunda do Nestor em troca da cola para a prova de ciências.
Mas vocês devem estar se perguntando: "- Por que diabos esse tonto tá falando de educação física se o tema é reencontro?"
É que esta semana, lá no jornal onde trabalho como redator, foi implantado um novo programa de incentivo às atividades físicas; sempre com aquele papinho de que somos muito sedentários, estamos entre o grupo de risco de doenças cardíacas e outros trololós.
Vai daí que contrataram um Personal Trainer para dar aulas lá na redação. Quando o tal do professor chegou, eu olhei atentamente para a cara dele e ele pra minha. Quase juntos falamos:
- Você não é o ...
- Rodrigo, há quanto tempo! — disse ele.
- Nestor! — respondi.
A partir de agora teremos aulas de condicionamento físico com o Nestor duas vezes por semana. E SABE DE UMA COISA? Não é tão ruim assim. O duro vai ser agüentar os chutes na bunda e os gritos de
"vai gordo!" que fazem parte de seu " método de incentivo e apoio moral".
Ai! Os chutes na bunda, do Nestor!
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