PARADOXOS
Ana Terra

Fascinante o mundo dos felinos. Animais bonitos, macios, silenciosos, misteriosos e com cheiro peculiar. A espécie mais próxima dos humanos é o gato. Considerado domesticado. Várias hipóteses para seu comportamento: apega-se à casa e não ao dono, demarca território, caminha lentamente pela casa, parece alheio a tudo mas possui olhos penetrantes. Sabemos de seu humor quando os pêlos de sua cauda e dorso se eriçam. Pode ser de alegria ou raiva. Uma incógnita.

Nas minhas andanças conheci um gato. Diferente de outros de sua espécie porque sabia dizer o que pensa. Seus olhares e idéias me fascinaram, mas, ao mesmo tempo, não me deixaram esquecer suas origens.

Numa madrugada acompanhei o gato até seu terriório. Segui seus olhos verdes sem pensar. Ele se comportou como todos de sua raça. Caminhou lentamente pela casa. Fez silêncios misteriosos. Conversou longamente comigo.

As horas passaram rapidamente. Sinto que o gato procurava seu ninho, onde se deitou e ficou calado. Somente seu cheiro tinha vida. Parecia dormir.

Deitei-me ao seu lado. No primeiro momento, uma grande sensação de desconforto. Senti que estava invadindo seu território. Apesar de cansada, não conseguia dormir. O gato calado ao meu lado. Meu corpo foi aos poucos sendo machucado. Espinhos me expulsavam dali. Entendi que não estava em meu lugar.

Levantei e caminhei pela casa. Os ponteiros do relógio diminuíram o ritmo. A madrugada esta indo embora. O sono me venceu.

Deitei novamente ao lado do gato imóvel. Desta vez fui acolhida. Meu corpo envolto por folhas verdes, frescas, cheirosas. Aroma de selva. Adormeci.

Acordo com um rugido e leves deitadas no meu peito. O gato se transformou num leão no cio. O seu desejo me contagiou. A loucura da carne. Um amor de felinos. Entreguei-me sem medo. Fui invadida. Apertada em seus braços. Molhada pelo perfume adocicado. Amei o Leão. Com toda intensidade. Mais um dia nasceu.

Em silêncio colei meu corpo nos seus pêlos. Sensação mágica. Inesquecível. Os espinhos e folhas desapareceram. Estávamos deitados no ar.

Dormi novamente. Ao acordar, o leão tinha desaparecido. Vi o gato caminhar lentamente pela casa. Olhei seus olhos. Não consegui entender seu mundo. Seus pêlos estavam eriçados. Parecia que estava sentindo um prazer distante. Sorria com seus lábios delicadamente desenhados.

Em silêncio, saí de seu território. Não olhei para trás. Só trouxe comigo o perfume, que ficou impregnado na pele.

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