A VIDA CONTINUA
Adriana Vieira Bastos

Não é que ssa história de história mal resolvida continuava. Assim pensava, cada vez que o encontrava. O tempo havia passado e, de acordo com seus cálculos, este sentimento não era mais para ser lembrado. Mas, uma grande sacada, há muito tempo atrás, o grande filósofo Pascal, ao mundo deixara e a sua pretensa teoria derrubava: "o coração tem razões que a própria razão desconhece". Tem paixões na vida que nunca se esquece! 

E olha que foi uma paixão que nunca esteve ao seu alcance, mas foi uma paixão que vingou num simples relance. Paixão de descuido, daquelas que pega de jeito, sem tempo de se armar. O jeito era se conformar... 

Do nada surgiu e, sem perceberem, fluiu. Cada um sobre a sua vida contava e o outro, atentamente, escutava. Não era papo do tipo to mal, sou incompreendido e to afim de alguém pra sair do baixo astral. Sentiam-se felizes com a vida que levavam e com quem a vida compartilhavam. Por isso mesmo, com um susto maior se confrontaram, e em pânico ficaram. 

Em sumir pensou e, por pouco, não pirou! Quando para um novo encontro ele a convidou, pelo desencontro ela optou. Um serviço de última hora inventou e ele fez de conta que acreditou...

O tempo foi passando, os desencontros aumentando e o clima insuportável foi ficando. Resolveram, então um dia, sobre este sentimento conversar. Cada um sabia de sua trajetória e nenhum dos dois queria mudar o rumo de sua própria história. Assustados, preferiram sublimar, sublimar e sublimar...

Quando menos esperava, se pegava a sonhar, fantasiar e, quando o via, de um baita esforço precisava para a "emoção de adolescente" controlar. Até porque nada podia fazer, cada um tinha sua vida e, nestas vidas, não deixariam nada se intrometer. 

Noutros momentos, sentia ter se deixado levar pela covardia e essa sensação no peito doía. Tanta coisa quis e deixou de lhe dizer, teve medo e preferiu nenhum risco correr. . .

Será que esta magia sobrevivia exatamente porque não havia o tal do dia a dia? Chegara a se perder de tanto pensar, mas depois resolvera desencucar. Mal a ninguém estava a fazer e, quando a saudade insistia em bater, discretamente, se permitia entristecer. 

Resolvera, então, das lembranças não abrir mão. Este segredo tinha o direito de guardar dentro do seu coração. 

E assim foi e vai vivendo, amando e a vida levando. Afinal, a vida continua: às vezes a deixa nua; às vezes é toda sua; e, às vezes, prefere ao mundo não contar...

fale com a autora

Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.