CATA-VENTO
William Stutz
"DEUS EXISTE MESMO QUANDO NÃO HÁ.
MAS O DIABO NÃO PRECISA DE HAVER PARA EXISTIR"
João Guimarães Rosa
Pode botar mais um prato à mesa, pode consertar aquele banquinho velho de madeira de lei que esta encostado no canto do paiol. Prenda os cães que não gostam de mim e me ameaçam na porteira, estou entrando.
Recolha a roupa do varal que vem chuva.
Se Quero-quero gritar lá do pasto, não pegue a velha "flober" que calça bala 38; sou eu mesmo, meio trote em busca de luz, à cata de ventos melhores vindos do oriente onde o sol nasce quase sempre.
Caipira que sou sei bem sabido:
"Se tiver poeira eu vou na frente,
se tiver porteira eu vou no meio,
se tiver atoleiro eu vou atrás".
Limpo os pés na enxada virada - fincada no chão, piso forte no alpendre de tábua gasta-corrida.
Sinto o café torrado vindo da cozinha.
Como é bom voltar.
Os retratos antigos de vós e vôs acabados à mão, bochechas rosadas em papel amarelado me olham,
aparentemente felizes.
Passo pela imensa sala e só eu ouço seu cheiro doce.
Tropeço na canastra coberta de couro, aquela com as iniciais de Vô Altino escritas com
tachinhas, as mantas de tear ainda estão guardadas lá.
Encosto no fogão quente com sua lenha-joia. Tem lingüiça defumando.
Saio para o quintal. Meus Deus, já é tempo jabuticaba.
Choro!
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