VELHA INFÂNCIA
Pedro Feitosa

Dizem que aqueles tempos é que eram bons, onde as crianças corriam livres na rua, não usavam calçados, ou pelo menos podiam se reunir com outras crianças em frente a suas casa (sem grades). Realmente, deve ter sido uma boa época para se passar a infância. 

Infelizmente não fiz parte dessa época, mas pude sentir um gostinho dela, quando, na minha infância, ganhei de uma vizinha, a valorosíssima coleção da revista "Nosso Amiguinho", um revista especializada em entretenimento que fez sucesso na década de setenta.

Meu irmão e eu brincávamos muito com essas revistas na nossa infância, o que mais me atraía nessas revistas era a possibilidade de montar o meu próprio brinquedo - com destaque os que tinham recorte, e entres esses, o cata-vento. 

Na primeira vez que construí um, não funcionou. Não sei se foi pelo recorte mal feito, ou então por eu ter pintado ele com tinta têmpera azul - não havia santo que fizesse o maldito girar. Tudo bem, dizia a minha mãe, ela compraria um pra mim vendido pelo palhaço da praça. Mas eu não queria um pronto, queria construir o meu próprio. 

Fiquei de cara amarrada por dois dias, até encontrar uma edição repetida dessa revista em meio a outros livros. Dessa vez iria funcionar, pensava eu ... 

Depois de pedir alguns conselhos técnicos ao meu tio, consegui montá-lo e finalmente ele funcionou. Pra mim foi a glória, brincava dia e noite com o brinquedo. Hoje analisando a situação, penso que as outras crianças deveriam me achar um idiota com aquele brinquedo horrível, pois afinal, estávamos em plenos anos noventa. Mas isso não importava, só o que me importava era ter vento pra girar bastante o pedaço de papel, agora pintado com lápis de cor marrom.

Assim os dias iam passando, até perdê-lo entre outros brinquedos. Lembro que não fiquei triste com isso, talvez eu também tenha perdido o interesse, junto com o brinquedo... Desde aquele dia nunca mais fiz um cata-vento.

Hoje, apesar do upgrade que a infância passou, ainda me alegro em ver uma criança brincar com um cata-vento, mesmo que seja aqueles de plástico. Num mundo onde impera a internet, o nintendo e tantos outros; é difícil encontrar crianças, daquele tipo que joga bola na rua, que sobe em árvores e come fruta direto do pé.

O mundo mudou, acho que estou ficando velho - não agüento o barulho dos joguinhos de computador, ou então assistir aqueles desenhos japoneses chatos. É, meu amigo, hoje as crianças ainda brincam de catar... mas não mais o vento.

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