APENAS PERFEITO
Míriam Salles

O vento passava forte, desmanchando seus cabelos. Não era possível contê-los com as mãos ou com fivelas e então desistiu, deixando que se soltassem completamente e esvoaçassem ao redor do seu rosto numa ciranda confusa. Fechou os olhos e absorveu o ar das montanhas. Era puro; nem seco, nem úmido, apenas perfeito. Naquele instante se deu conta de quanto sua vida estava imperfeita. Sabia que precisava tomar algumas decisões, mas tinha medo. Ainda de olhos fechados repassou mentalmente os problemas que mais a afligiam. Entendeu que sua vida estava como os fios que sentia voando em todas as direções, emaranhando-se cada vez mais.

Girou lentamente sobre seus pés, buscando uma melhor posição. Quando sentiu que recebia a corrente de frente, percebeu que seus cabelos se ordenavam e não mais se rebelavam, girando todos num mesmo sentido. Abriu os olhos e decidiu que assim seguiria, feito cata-vento que, enfrentando a massa de ar, muda de direção a cada dia. Apenas perfeitamente sincronizada com a ventania.

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