VEM, VENTO-CAXINGUELÊ
Lula Moura

Cata-vento, cata-mania.
Cata um invento, cervejaria.
Cada gol, um tormento, selvageria.
Cada luz, um fingimento, taquicardia.
Cada sopro do vento: - Ave, Maria !

- E o Vento, quem cata? Cada uma que me aparece. (e some...)

Iapery não entendeu como aquela bola foi parar ali... Vento, assombração, que terá sido? Vento por vento, ele fazia um teste ordenando à natureza:

- Vem vento. Cata a bola, vento.

- Vem, vento-caxinguelê ! 

Nada. Sua capacidade de lidar com o vento ainda não estava totalmente desenvolvida...

Talvez um espírito-moleque, ou um moleque com senso-de-espírito que chutou e se escondeu. (pensou...)

- É mais provável que tenha sido a última hipótese.

Melhor que tenha sido, pois esta coisa de espírito também não era de seu inteiro domínio. Pra sermos sinceros, nem meio domínio...

Por algum motivo que não soube explicar, pensou em Inara, sua irmã que se foi pra sei lá onde, num dia desses, em tempos que se foram...

- Inara !!! Será que foi você quem chutou a bola até ali?

- Não, não pode ser... Inara não está aqui, já tem tanto tempo...

- Tempo, tempo, tempo... Será que cruzei alguma barreira? Tio Aruom diria que sim. Começaria a dizer que: lá na Terra...

Iapery nunca entendeu direito esse papo de "tempo paralelo" ... Seu tio sempre lhe pareceu um louco romântico dos anos de oito mil novecentos e vovô-garoto... cujas histórias lembravam um planeta vizinho: tal de Terra...

- Téerraaaa, isso lá é nome de planeta? Aqui em Kilove, morremos de rir com essa fonética... e com as histórias do povo de lá... 

De repente uma voz feminina:

- Iapery, você está aí?... Posso senti-lo !...

- Inara, Inara !!!(?) Não pode ser !

- Sim, sou eu. Vamos jogar "queimado" ? Pegue a Bola que joguei...

A emoção tomou conta do seu pequeno ser, e ele sentiu a presença do amor maior... Tanto tempo, tanto tempo...

- Onde esteve, Inara?

- Numa vida bonita, num lugar bonito, paralelo. Deixei gente bonita por lá, e já estou com saudades...

- Então, Tio Aruom tem razão ?

- Não me pergunte muito, Iapery... Não sei por quanto tempo fico... Vamos jogar.

Estarrecido, ficou pensando... Por onde ela esteve esse tempo todo?

- Perguntas, perguntas, perguntas... Resposta que é bom, nada!

Iapery resolveu esquecer as questões existenciais e curtir a presença da irmã. Tudo vem a seu tempo (paralelo ou não). E, afinal, já sabia como a bola fora parar ali...

Cata-vento, cata-mania.
Cata um invento, em pó, ventania.
Cada falta, um lamento, céu já seria.
Cada pus, uma ferida que cicatriza.
Cada sopro do vento: - Ave, Maria!

Vem, vento-caxinguelê!
Sopra meu erro, pra ver
Se conserto isso tudo,
E consigo,
de certo modo ser
eu de novo, do novo, ou não...

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