JORRANDO FANTASIAS
Márcia Ribeiro

Que pensamentos estarão rondando a mente desse homem? Tão menino no sorriso matreiro, no olhar perdido de idéias infames. O corpo languidamente estendido no tapete alvo, recanto dos pecados não admitidos e tão bem vindos. As mãos a caminhar pelo corpo que se pronuncia, impetuoso, na intenção do que já se admite nos lábios entreabertos, no gesto natural desse menino/homem, na ânsia de chamar e pedir com palavras inventadas que ela chegue e o acalante em tanta harmonia. 

Mantém o segredo do ritmo, ora lento, ora acelerado, ora em abandono, ora num aperto da mais deliciosa lembrança ou fantasia. 

Pela vidraça observo com os olhos famintos, deslumbrados, o corpo nu que não se contem, que retesa os músculos num comando intenso e quer agora manter um controle que não faz mais sentido, fazendo com que esse momento se perdure e ao mesmo tempo o tire de tanta aflição, com sábias intenções. O homem. Tão menino, tão puro na forma de amar, tão homem!!! Não há mais o que manter em segredo. Nem há segredos. Nem mistérios. 

Há somente a forma mais translúcida de se fazer prazeroso no momento em que a temperatura se eleva, os olhos obedecem a entrega e se fecham, os dentes experimentam a pressão nos lábios, a mão se estende pelo tapete, buscando o amparo e o calor, algo que o torne liberto e que o faça retornar a realidade da sede e da fome saciadas.

A pele ainda febril, a boca ressecada e os olhos cerrados, não querendo o despertar desse torpor. 

O velho relógio na parede adivinha minha presença e anuncia, em três longas badaladas, o momento em que abro a porta num silêncio encorajador. 

E nino o meu homem/menino, trazendo-o para meu colo, deixando-o ali, perdido, livre, no carinho de todo o meu corpo nu.

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