TRÊS HORAS É
POUCO, CORAÇÃO
Bárbara
Helena
Meu
quindinzinho,
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Alfredo, Claro que eu lembro das nossas noites no Motel Beira-Mar, eu tenho boa memória, meu querido. Lembro também das tuas tardes com a Laurinda, a vizinha do 15 e a torcida do Flamengo. Lembro de Paquetá, onde me colocastes tantos enfeites na cabeça que eu parecia uma árvore de Natal. Deve ter sido por isto que atraí a atenção do salva-vidas moreno e sarado que tu deixaste no hospital com a perna quebrada pra nunca mais salvar a mulher do próximo do afogamento do ciúme. Lembro da nossa casa e do canário que cantava cedinho quando voltavas das tuas farras no Enchanted, onde jogavas sinuca, e do Alegria das Nêgas onde perdias no pôquer o que sobrava do troco que te davam as vadias ricas da zona Sul, interessadas em conhecer a tua cor local. Lembro daquela noite no tapete, claro e reconheço que foi demais! Mas demais foi também agüentar as lamúrias da minha mãe e ter que pagar a conta das flores que tu mandaste pra ela diariamente em nosso nome. Se o florista não fosse meu amigo, tinha perdido o crédito no cartão. Verdade que perdi alguns outros créditos, mais íntimos, mas o que não se faz em nome do amor materno? Hoje tenho flor de graça todo dia, sem falar no pãozinho do português que Deus o tenha. Lembro de tudo muito bem, do sofrimento e da compensação. Mas no balanço final tenho minhas dúvidas. Eram três horas sem parar e sofro por te perder na cama, onde és total e imbatível parceiro, isto é verdade. Mas na hora de pagar a conta, não sei não. Vale a pena três horas de prazer por uma vida inteira de maleita? Ilusão nunca foi barata, coração. Só em letra de música. Custa caro, caríssimo, muito mais do que as tuas três horas divinas de paixão.
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