POIS É! E AGORA, JOSÉ
Vera Vilela

De repente me vejo só! Livre! Enfim!

Estou aqui sozinho, sem casa, sem esposa, sem filhos, sem cachorro, sem gatos! Tudo aquilo que estava me deixando louco e sem tempo para mim acabou.

Não tenho mais varal para amarrar, não tenho lâmpadas para trocar, nenhuma torneira pinga, nenhum pneu furado de manhãzinha, nenhuma criança vomitando para levar ao hospital, nada!

Nada daquilo que já não agüentava mais!

Posso passar o dia todo neste quarto e cozinha, sem lavar um único copo ou prato e ninguém para reclamar.
Posso largar o resto de pão na mesa, eca... ta cheio de formiga!
Posso largar minha roupa suja pelo chão. 
Poxa cadê aquela minha cueca samba canção?
Posso deixar a televisão ligada o dia todo. 
Uau! veja a conta de luz!

Como este apartamento esta fedendo, precisando de uma faxina, bem que minha filha podia vir me visitar. 
Não virá, da última vez eu ranzinza impedi que ela limpasse o banheiro.
Mas meu filho podia vir com a namorada e então... hum...
Não virá, ele morreu de vergonha quando chegou com ela e viu camisinha usada no banheiro.
Mais um fim de semana sozinho.

Por que era mesmo que eu queria ficar só?
Não consigo me lembrar, parecia uma coisa tão boa.
Por que era mesmo?
POR QUE?????????????

Que droga!
Não agüento mais esta solidão.
Não agüento mais não saber ao lado de quem vou acordar.
Não agüento mais saber se vou ter dinheiro para poder sair, ter carinho.
Não agüento mais ficar sozinho!

Qual foi o ponto exato desta estrada que eu me perdi?
Onde foi exatamente que eu e ela nos perdemos?
Nunca saberemos!

Trocaria este meu novo aparelho de som por um bom prato de comida caseira.
Uma gritaria na mesa, discussões, gato me arranhando, mulher pegando no meu pé!
Pois é! E agora José?

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