PODE PARECER PROPAGANDA, MAS NÃO É
Ubirajara Varela

Fazia muito tempo que não nos encontrávamos. Tínhamos vidas completamente diferentes, eu sei: ela, mãe de família, dona-de-casa, entre outras tarefas e eu, um mero estudante universitário. Mas, ainda assim, somos vizinhos, sempre há espaços para uma troca de "bom-dia" ou "tudo bem" nos rápidos encontros na portaria do prédio.

Fui reencontrá-la faz poucos dias, estava voltando de suas férias fora de temporada com a família. Um tempo na fazenda é excelente pedida para descansar da correria diária da capital. Ela contou-me que fora ótimo, correra tudo bem, estava descansada e pronta para encarar a lida.

Apenas um fato inusitado ocorrera nas duas semanas de viagem: imaginem que minha vizinha, voltando das tais férias, disse-me ter encontrado um livro muito interessante. Estava perdido na estrada, suas páginas remexendo ao vento, ficou curiosa, ela teve que parar para pegá-lo, mesmo que a contragosto do marido.

Após folheá-lo, descobriu que era uma coletânea de contos e crônicas de diversos participantes, os quais se organizavam num site da internet para publicar textos quinzenalmente. A essa altura já dá para se imaginar de que livro ela está falando. Sim, é a terceira antologia dos Anjos-de-Prata.

Ela insistiu em me mostrar o exemplar. Assim que vi em suas mãos aquele volume de capa branca com traços azul, cinza e vermelho, a marca dos "anjinhos", fiquei imaginando a volta ao mundo que aquele livro poderia ter dado até "cair" nas mãos desta mulher. Como poderia ter chegado na estrada onde ela o encontrou, quem teria se desfeito de tal preciosidade, teria sido por indignação, raiva ou simples descuido. Muitas questões que não poderia achar resposta.

Bem, independente destas divagações pessoais, a vizinha, que esqueci de apresentar, chama-se Lourdinha, 59 anos, falou que a-do-rou as histórias sobre a loucura. Deveria ser de gente importante (ainda que desconhecida para ela), pois o livro contava com uma crônica do ilustre Mario Prata, autor de uma das novelas de televisão de que ela mais gostou em toda a sua vida.

Eu fiquei com um sorriso de lado, para não revelar a minha satisfação pessoal com os elogios, nem parecer arrogante ou coisa parecida. Afinal, mal sabia ela que seu vizinho era um dos membros participantes da edição. Lá na página 68, se não me engano, estava a minha crônica do avental. E ela a havia mencionado anteriormente, como uma de suas preferidas. Fiquei, sem falsa modéstia, bastante lisonjeado.

Conversamos um pouco mais e, no final das contas, preferi manter o anonimato. Falta de atenção da parte da vizinha, porque meu nome estava estampado para quem quisesse ler. Um nome não muito comum, aliás, fácil de se ligar à pessoa. Lourdinha falou que estava interessada em participar do site, que havia regras que lhe davam um certo charme, um gostinho a mais para quem conseguisse entrar. Ainda com o meu sorriso de lado, eu só pude incentivá-la.

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