À LUZ DA LUA
Márcio Benjamin Costa Ribeiro
Ele acordou deitado sobre as raízes de uma árvore. Olhou de relance para o seu redor e sentiu muito medo. Não fazia a mínima idéia onde estava. Tudo que podia notar era que estava numa floresta. A lua iluminava as árvores de uma forma engraçada. Lembrou-se que em sua casa havia um quadro com a mesma paisagem. Mas isso não valia de nada agora. Ergueu-se limpando a terra das calças e suspirou fundo. Percebeu que a camisa estava rasgada. E suja de sangue. Tentou manter a calma e procurou lembrar-se como viera parar ali. Na sua mente passavam imagens esparsas. Viagem. Bar na beira da estrada. Mulher. A lua. As árvores passando muito rápido. Muito rápido. Sentiu-se tonto e encostou numa árvore próxima. De repente começou a entender . Bar. A mulher no bar.
Ela sorriu tomando um grande gole da bebida paga pelo estranho. Com uma rápida olhada, fez uma análise das possibilidades. Boas roupas. Relógio caro. Vestia-se como um pastor. A mulher procurou fazê-lo beber mais. Talvez nem precisasse usar o comprimido. Seria bom. Estava ficando caro e era cada vez mais difícil comprá-lo sem receita. Perdeu suas esperanças quando o homem tomou a sua quinta cerveja e permaneceu ótimo. A chance surgiu quando ele levantou-se para ir ao banheiro. Ao passar por ela, deu-lhe um beijo no pescoço. Ela sorriu mais uma vez e pegou discretamente o copo. Abriu a bolsa, pegando o remédio e o mergulhou de leve na bebida. Porcaria. Devia ter esmagado antes. A pílula azul sempre dissolvia com muita dificuldade na cerveja. Ele voltou rápido do banheiro e perguntou pelo copo. O remédio ainda não dissolvera por completo e desceu quase inteiro pela garganta do homem. Ela esfregou a alça da bolsa, assustada. Mas ele não sentiu nada. Talvez não fosse tão resistente ao álcool assim. Vamos. Vamos sair daqui.
Ele procurou com angústia a sua carteira. Documentos. Nada. Só as roupas do corpo. De repente, lembrou-se de tudo ao mesmo tempo. A mulher, o bar, o golpe. Mas ainda não sabia onde estava.
Estou meio tonto, acho que bebi um pouco demais. Tudo bem, eu posso dirigir se você quiser. Ele riu e pôs a mão dentro da blusa dela. Claro. Sem vergonha. Ela dirigia apressada. Aonde você está indo? Calma, amor. Você vai adorar. Vou adorar. Ele repetia. Vou adorar. Me dá a minha bolsa. Claro. A estrada estava muito bem iluminada. Pela lua. Grande e branca. Ele olhou a lua. Parou. Me dá a bolsa. O quê? A bolsa. O homem começou a ofegar e tremer. A mulher o olhou de relance e ainda teve tempo de ver a sua boa camisa rasgar-se. Perdeu o controle do carro.
Ele viu um carro passando pela estrada e gritou por ajuda. O veículo perdeu o controle e bateu em uma árvore. Ouviram-se gritos. Correu. Talvez alguém precisasse de ajuda.
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