PERDIDO NA ESTRADA
José Carlos Antonio

Entre o nada e o lugar nenhum há sempre uma estrada tortuosa e poeirenta. Bendita estrada! Foi isso que ele aprendeu, quando lhe expulsaram da escola da vida, depois de seguidas repetências e tarefas sem fazer. Diploma de perdedor, troféu de fracassado, arrasta sua glória em paz, acomodada em três sacos, e já não tem pressa. Aliás, nunca teve. Afinal, quem tem pressa acaba logo. A história se repete, repete ele a si mesmo, morro após morro. E o mesmo horizonte sem glória está sempre no fim da estrada, esperando em vão, pois a estrada só termina para quem quer saber onde quer chegar. Vez por outra uma buzinada e um grito, alguém lhe cospe ou, pior ainda, lhe atiram latas, como noutro dia em que quase lhe racharam a cabeça. Mas ele é péssimo aluno e esquece rápido. Ontem não existe mais, hoje já é outro dia e amanhã nem existe ainda. Leva a lata no saco maior. Vai vendê-la em algum lugar. E, assim, vai-se, repetindo a história de si mesmo. A estrada é fértil, ele sabe, pari uma bituca aqui, uma latinha ali, por vezes até jornal do dia que, de novos e secos que são, funcionam melhor como agasalho para os pés nas noites frias. Fosse mais silenciosa seria séria e não teria graça. Fosse mais graciosa estaria morta e calada. Morte e silêncio, uma desgraça... Melhor assoviar. Certa feita lhe ofereceram carona. Talvez algum arrependido do sucesso parasita que corrói a alma de uns poucos bem nascidos. Era um bom carro e talvez o moço até lhe desse algum trocado para a pinga do próximo posto. Mas ele sempre foi ruim de dar as respostas certas e quando o moço perguntou, "prá onde você está indo?", ele não resistiu, olhou pra frente, olhou pra trás, fingiu ter pensado em algo e tascou sem piedade: "não to indo não seu moço", e tomou de novo sua falta de rumo. Dois passos adiante ele completou baixinho para o pedregulho que voava do bico de seu tênis rasgado: "Vai você, filho da puta!".

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