CRIME PERFEITO
Pedro Luiz Cipolla

- Neide,sabe aquele casal que vive discutindo naquele apartamento no prédio da frente?

- Sei...mais ou menos.

- Pois é,hoje à tarde,quando você tava trabalhando,ele matou ela!

- Cê tá louco, Fonseca! Você tá vendo muito filme na televisão.

- Eu juro!

- Depois que você saiu da Prefeitura fica em casa o dia inteiro, só nessa janela, imaginando coisas.Porque você não vai procurar um emprego?

- Cê sabe que não adianta.Já cansei de procurar.Na minha idade...

- Mas precisa passar o dia inteiro nessa janela olhando o apartamento dos outros?

- Ué,não tenho nada pra fazer.

- Já que você gosta tanto de imaginar coisas porque você não usa essa sua imaginação e escreve um livro de suspense, hein meu Hitchcock?

- É ver-da-de , Neidinha.Hoje à tarde eu estava na janela quando vi aquele vizinho levantar uma faca e enfiar na mulher!Ele matou ela!

- Cê tá vendo coisas, Fonseca.Vai ver o cara estava com uma faca na mão e começou a explicar alguma coisa pra mulher e fez algum gesto mais brusco que você já achou que ele estivesse matando a mulher.

- Não é nada disso! E você viu a cara dele? Ele tem cara de assassino.

- Desde quando você conhece o sujeito que mora no prédio aí em frente?

- Quando eu ia comprar pão eu sempre encontrava com os dois.Ele mal encarado e ela era uma ruiva “bem apanhada”.

- Ah, “era” né? É porisso que você não sai da janela né, seu safado? É pra ver a tal da ruiva “bem apanhada!”.

- Nada disso, Neidinha.É que como eu não tenho nada pra fazer, gosto de ver o movimento da rua e acabo, sem querer, olhando para os apartamentos aí em frente.Eu vi quando ele matou ela!

- E daí?

- Daí,ele arrastou o corpo sangrando pela sala e levou para o banheiro.

- Você viu isso?

- Não vi, imagino...

- E daí?

- Com uma faca bem afiada ele foi destrinchando o corpo dela.Sabe como você faz com o frango de domingo? Separou os pedaços e colocou tudo numa mala.Daí deu sumiço nela.Vai ver ele já jogou a mala no Rio Tietê.

- Você nem tem imaginação.Esse é o velho crime da mala...

- Você não percebe que ele não teve tempo para planejar a morte da mulher? Eles discutiram e de repente ele pôs para fora todo o seu instinto assassino passou a mão na faca e enfiou nela.O que ele não contava é que eu estivesse assistindo a tudo aqui de casa. 

- Você tá delirando, Fonseca.

- Delirando, é? Nunca mais encontrei a ruiva na padaria, só aquele mal encarado e sozinho...

- Vai ver ela enjoou de ir comprar pão.Pensa que todas as mulheres são escravas como eu?

- Nunca mais a vi passeando pelo apartamento só de cal...

- Só de quê, Fonseca ?

- Shorts !

- Você precisa arrumar o que fazer, homem...

***

- Fonseca,sabe quem eu encontrei hoje na padaria aos beijinhos?

- ?

- A sua “ruivinha” abraçada com o “assassino”! Fingi conhece-la e falei que ela estava sumida.Sabe o que ela disse?Que foi visitar a mãe no interior e aproveitou pra ficar uns dias.

- Puxa ! Então, senão foi a ruiva, quem será que ele matou naquele dia? Ele tem uma cara de assassino...Então ela é cúmplice! Foi ela quem levou a mala com o cadáver.

fale com o autor

Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.