MÁGICA
Nilda Brandão

Quando eu era pequena achava que minha mãe tinha alguma coisa de mágica. 

Primeiro porque ela sempre adivinhava o que eu estava pensando. Se eu mentia, ela descobria. Se eu dizia que escovei os dentes quando na verdade não tinha escovado, ela sabia. Ela sabia quando eu tentava incriminar meus irmãos de algo que eu tinha feito. Sempre sabia tudo! Eu ficava impressionada com ela. 

Mas a coisa que eu achava mais legal era como ela fazia comida. Ela preparava uma coisa de cada vez. Ia enchendo tudo com temperos e ervas e colocando as panelas no fogo. Vez ou outra ia lá e mexia com uma colher, provava. E quando ela terminava, não importa qual panela ela havia colocado no fogo primeiro, todas terminavam na mesma hora! Como ela sabia qual panela colocar primeiro? Era como alquimia, colocava coisas que aparentemente não tinham nada em comum e tudo ficava harmonioso na panela. Eu lembro que sentava para brincar perto da porta da cozinha e ficava vendo-a trabalhar. Ela me dava broncas por estar atrapalhando o caminho, mas estava sempre lá. E sempre, todas as vezes mesmo. Acontecia do mesmo jeito. Não importava se ela estava fazendo sardinha frita ou lasanha. Todos os pratos sempre eram desligados ao mesmo tempo do fogo e tudo ia quentinho para a mesa. 

Engraçado que eu cresci, aprendi a duras penas cozinhar e faço a mesma coisa hoje. Mas hoje, já não parece magica, só parece lógico que as coisas que demoram mais para cozinhar devem ser colocadas primeiro no fogo. E no final, tudo termina junto porque agente aprende, meio por instinto, a controlar o tempo de cozimento das coisas. Mas até hoje quando visito minha mãe, ainda sento perto da porta da cozinha e fico vendo-a cozinhar. Com ela, estranhamente ainda parece mágico. 

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