OLHAR VIAJANTE
Juraci de Oliveira Chaves

Espia pela janela. Sempre espia. paisagens via. A lua enamorada a espera do sol. Sempre espera. Nunca chega. Rotas diferentes. Não se encontrarão certamente. A espera é longa, triste e solitária. A janela sempre abre para o olhar viajar ao infinito. Está cinzento, fúnebre. Algo de triste chocalha entre a terra e o firmamento. Nuvens vermelhas, pretas, viajam devagar carregadas de melancolia... Triste de se ver e quase impossível de entender. O olhar percebe os caminhos tortuosos e desconhecidos. Uma incógnita.

O vento leva a poeira para formar novas nuvens, poeira sangrenta. Ele assobia uma canção amargurada, dolorida.

Palpa a janela, observa-a, percebe que sulcos d'água da chuva molham o vidro embaçando a visão. Toda a visão. O mundo está embaçado. Ela gira, dá meia volta e deita na cama. Observa a imagem lá fora, pelo retângulo opaco. O foco é sombrio. A distância também. Vê o contorno distante entre as nuvens fendidas. É do homem amado, que partiu para o combate - ela pensa. As suas mãos em movimentos desordenados apertam a arma pesada, no cumprimento do dever imposto. Mãos que a acariciaram agora acariciam aquela que fere, que mata. As lágrimas chegam com a saudade, molham os olhos azuis. Não existe fumaça que consiga cobrir a dor que sente, se deixa ficar debruçada na janela, a mercê do tempo impregnado de fel, de sangue preto. Ele se foi e ela ficou a contar os minutos até o seu regresso. Contará muitos... Reconhece que o diálogo falhou a humanidade não conseguiu se comunicar para resolver as divergências. As horas se prolongam e o triunfo tarda em chegar assim como o seu sono. Sufoca de ansiedade. Um dia o amado chegará, ela sabe. Talvez como herói, morto.

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