CACHORRINHO DA MADAME
ou
A JANELA QUE NÃO DEVIA ESTAR ABERTA
Iosif Landau
Sacudi o ombro dela:
Acorda, droga!
Sentado à beira da cama só de cueca, não gostava de ficar nu, nu só na hora da trepada, os amigos diziam “porra, cara, tens pau pequeno” e eu acreditei, daí a cueca, tamanho não é documento me dissera uma vez uma gentil amiga, veja a estatua de David de Miguelangelo, tão belo e forte com um aquilo diminuto, como seria o do Golias, eu pensava, mas esse papo é pra outra hora, olhei o corpo moreno deitado no lençol rosa, sensual e mulata da gema, seios...Rubem Fonseca dizia que seios perfeitos cabiam na mão sem derramar excesso pelos lados, Trevisan exaltava seios tipo taça de champanhe, esquisito, mas vá lá que seja, escritor é doido mesmo, eu gostava de todos, escritores e seios, até dos tamanho melancia, seios, não escritores, eu já comera mulher com seios que cabiam numa xícara de cafezinho... a mulata em questão, nada de especial em sua geometria mamaria, mas tarei pelos bicos, tamanho do meu polegar, a procurava só para os sentir entre os lábios, os largava no ultimo suspiro, meu tesão por ela era tamanho família, as vezes a comia as seis da manhã antes do batente, com freqüência de tarde, o chato era saber se não estava ocupada, tenho que viver, amor, ela me dizia, é meu trabalho...
Sacudi de novo:
Porra, levanta!
Sou um cara diferente, só gosto de transar com mulher de vida fácil, puta mesmo, por que? me perguntavam os amigos, ora por que, respondia, tem nada de por que, só os filmes americanos são explicadinhos, o cara é violento por ter levado porrada quando criança, é estuprador por te sofrido assédio sexual na infância, é bicha por causa de que sua mãe era dominadora e o pai omisso, baboseira, quem precisa saber a causa da puta amar ou querer se casar, ou eu gostar delas?...o fato é que cansara das casadinhas, um saco, esse negócio de encontros em motéis na avenida Brasil, “amor, tem que ser afastado, nunca se sabe...”, então eu insinuava “vamos no Centro , conheço bons...” “Deus me livre” respondiam,” e se encontro um conhecido...”, amor com hora marcada para acabar, andar quilômetros num táxi, entregar grana suada à máfia espanhola, um porre, mas o que grilava mesmo era o ”não posso continuar assim, entenda, é um bom homem, precisa de mim...”
Sacudi , tapinha no rosto:
Acorda, que saco!
Quando resolvi largar de vez as casadinhas pensei com seriedade na masturbação, reli o Complexo de Portnoy de Philip Roth, manual do onanismo, achei complicado arrumar um fígado de boi, um tronco de bananeira e também fracassei na primeira tentativa pós- adolescência, a imaginação não funcionou, nenhuma mulher valia a pena, nem mesmo a Marylin, tava zangado com ela por ter me traído com os Kennedys , fui à cata de putas, coisa fácil, indicação de conhecido, anuncio no jornal, ligar o cel, e pronto, só escolhia puta de classe, apartamento próprio e um uísque antes, as vezes dava zebra, como no caso daquela que findo a seção da tarde perguntei “quanto é, anjo?” e ela respondeu “quanto você achar que mereço” e eu coloquei três notas de cem na mesinha e ela”obrigada, anjo, é muito, tira uma se quiser” e eu assim fiz e ela me expulsou a tapa, mas sou um cara gentil e modéstia a parte, bem apessoado, por vezes levava garrafa de uísque, elas gamavam...”você é educado, cheiroso, carinhoso, não machuca...” ai é que tudo ia pro brejo, vaidoso eu me esmerava, um charme...
Sacudi ela pelos dois ombros, a cabeça balançou como duma boneca desconjuntada.
Levanta, sua safada!
Me encrencava com freqüência, amor de puta é fogo, estremeço só de me lembrar da Lúcia ameaçando com uma faca, nada demais se não fosse dela fazer isso no meu local de trabalho, que perrengue... de outra feita tive que sair de casa as duas da matina e bater no apê de Luana, me telefonara...”estou sentada no parapeito, vou me jogar”, usei a saliva que tinha e não tinha, um terror e ainda tive que agüentar o “tudo bem, doutor?” do sacana do paraíba na portaria, e o que dizer da Solange, a sacana viera da macumba, o pai do santo lhe dera o caminho pro meu amor...”esfrega o meu esperma no ombro dele...” o pilantra a convencera a masturba – lo...tenho vontade de vomitar só de pensar...
Segurei as pernas, tentativa de coloca- la sentada...caiu de volta:
Que merda! levanta!
Eu detestava passar a noite com mulher, depois da transa, não é que não gostasse da companhia delas, eu sou feminino, adoro elas por perto, homem é um saco, cervejada uma vez por semana com eles bastava, tapa nas costas é só , ainda bem que não servi a verde oliva, agora com mulher é outra coisa, são inteligentes, engraçadas e como a risada delas é legal...gostava de relaxar no meu cafofo depois do lance, dormir na mesma cama é furada, traques e roncos, ruim mesmo...saía disparado, nem banho nem nada, doido pra chegar em casa, Brigite a mulata insistia, eu desconversava, nessa tardinha ela esvaziara quatro garrafas de cerveja, finda a transa levantara cambaleando, tirara as chaves do meu bolso sumindo com elas...” vai dormir comigo...” e apanhou mais um garrafa de cerveja, bebeu tudo de um gole, deitou- se na cama, fechou os olhos...
Sacudi com violência – acorda, vamos , as chaves! –ela abriu os olhos, riu, – só depois de mais uma trepada, me puxou, fazer amor com bafo de cerveja...olhei pros seios e...
As chaves!
Nada feito!
Fui me vestir, que se danem as chaves, o porteiro do meu edifício tinha duplicatas, em seguida fui até a porta, torci a maçaneta, estava trancada...
Segurei o cachorrinho dela pelo cangote, – o jogo pela janela! – ela cambaleou até a cozinha – toma! –abre a porta, – larga ele, – abre primeiro, eu estava perto da janela com a mão no cangote do bicho suspenso no ar, ouvi o destrancar, não deu tempo...ela veio enfurecida, unhou meu rosto – filho da puta! – gritou, larguei o cão, ouvi um ligeiro baque, a deixei gritando e esperneando...sentirei saudade dos bicos tamanho polegar.
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