OLHAR
CALEIDOSCÓPIO
Ana Terra
Acordo no quarto de paredes nuas. Dormi profundamente. O cansaço foi imenso. A sensação de que viajo há séculos me exauriu. Morri um pouco envolta pelo mar petrificado. O silêncio é profundo. Estou em paz.
Abro a janela. Os raios de sol tentam dar um colorido às paredes brancas. Lembro-me que foi aqui que ganhei a pena do pavão. Ainda não descobri seu mistério. Seu único olho negro, sem pálpebras/janelas nada me responde.
Tento decifrar o segredo. Em pensamento, vejo a mulher de olhos negros. Ela me conta histórias. Fala de suas emoções. Seu olhar vai se abrindo. Um vão na janela de sua alma. Cores brilhantes. Estranhos e lindos quadros surreais.
Recordo a infância. Horas girando o caleidoscópio nas mãos. O que me fascinava era a quantidade de quadros que apareciam naquele brinquedo rudimentar. Nenhum igual ao outro. Beleza infinita.
O olhar colorido forma desenhos que me lembram o caleidoscópio de criança. Suas mãos estão imóveis. O que faz a galeria surrealista são suas emoções. Seus cílios se movem de forma frenética. Uma ventania abrindo e fechando a fresta da janela.
Observo calada.
Minha cabeça fervilha com perguntas sem respostas. Há momentos em que a neblina densa envolve o mar petrificado. Tento obter luz de forma primitiva. Acendo uma tocha na ânsia de enxergar. O efeito é contrário. Fico cega e me assusto com o contraste. Abro minha janela. Fogo e neblina. Visão e cegueira ao mesmo tempo. Mais uma pintura misteriosa e surreal.
Sou criança novamente. Abrindo minhas janelas para o caleidoscópio da vida.
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