ESPELHO MEU
Shirley Kühne
No espelho-dia,
numa idade-noite,
o olho da reflexão
constata:
A crosta lígnea
na pele ventada
pelo outono
despede-se da primavera,
tangendo
uma amotinada alma
- uma parca -,
almofada de alfinetes
espicaçando fiapos de vida,
faiscando
o feno do paiol do desejo,
pulsante lampejo,
- de batalhas passadas -,
com ávidos tridentes,
murmurando
entredentes a solidão da palavra
inesquecida, que os dedos úmidos
afogam no corpo árido
qual chuvisco em Juazeiro,
renascendo
do tronco rugoso e seco,
o cerne prisioneiro,
brotando, enfim, a serena semente
das nuvens do espelho.
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