REFLEXO INCAUTO
Lula Moura
Em crise, sem rumo,
seu rosto me diz,
e eu escuto.
Nós em nós,
relação mágica
que deriva, à deriva,
em risco e rabisco.
Fosco, agarrado
na dúvida, eu luto.
Teimo, reluto e pergunto:
O quanto a gente se ama?
E enquanto a gente se fala,
de tanto que a mente se inflama,
meu corpo debate e se cala.
Luz minha, que vem da tua alma
seduz, silencio do caminho.
Ilumina, reluz, no reflexo incauto,
feroz escrita do teu pergaminho.
Fogo, que acende e ressente,
queima, cinza que traumatiza.
Lobo que corre pro vento
e foge da sua matilha.
Filha, ao longe, descansa,
disfarça e ora na hora.
Finge que traz e desponta,
rasga e engana a aurora.
Mente que trilha,
caminha em busca do monge,
que sabe, reflete, não mente
e observa de longe.
Fora de mim, bato a foto.
Alma que geme, em auto-retrato,
olhos pra dentro, busca entender
pisca, não pisca, reconta os fatos
e fareja as pistas, no anoitecer.
Brisa refresca e conta com a lua
estrada nua, lugar-comum.
Sombra que traz a verdade mais pura
E eu, sem frescura, fico em jejum.
Sinto que sinto e que sinto
Fico descrente ao que vejo
Percebo o vinho crescente
que sangra e desanda nas veias,
tinto que tinto e que tinto.
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