E QUANTO A MIM
Juliana
Lá estava eu na frente do espelho... e ela me olhando de volta! ah que raiva! Apontando todos os defeitos e aquela espinha gigantesca no nariz.
"Haahahahaha, você é horrível!" ela costumava dizer."Como você vai para a escola assim, tenebrosa desse jeito? Eu se fosse
você nem tinha saído da cama! Hahahahaha!" Vaca. Aquele reflexo era mesmo uma
vaca! Ah, mas um dia eu ia me vingar, ah se ia! Seria a vez da tenebrosa aqui mandar o espelho se danar!
Então o dia chegou. Eu, o espelho e o salto do sapato. "Feia! Acabaaaaaaaaadaaaaa!". Veremos! Uma sapatada, duas, dez,
mil. Aquela chata foi se despedaçando e caindo em cima dos meus pés descalços.
E eu chorando de raiva. Vaca, vaca mil vezes! Morreria, nem que para isso eu tivesse que morrer junto!
Eu a tinha destruído. Agora quem falaria que eu era feia? Ninguém. Chorei de
emoção. Estava livre. Livre... Deitei como um coelhinho assustado em cima dos cacos, que me cortaram os braços.
E comecei a rir. Sem ela eu seria apenas eu mesma.
Fazem uns dez anos que eu não me olho no espelho. E quem liga? Dane-se se o meu cabelo está
despenteado, ou se tem uma espinha no meu nariz. E estou mais contente do que jamais imaginei estar.
Ainda guardo um pedaço dela para me lembrar de quanto sofri em suas mãos. E para lembrar de quantos por aí
não se matam por terem acreditado em seus próprios reflexos...
Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.