ANGÚSTIA
Eduardo Prearo
Ainda é noite. Em caliginosa caí angústia. Os pássaros daqui a pouco começarão a chilrar, e isso me parece insuportável. Pinto um retrato, pra ser mais preciso, um auto-retrato. Já o terminei, mas falta algo. Ah, falta uma pinta... uma pinta que não sei se pintarei. Quando a gente é jovem, a gente se acha até que importante, sabe. Mas depois o tempo vai passando e percebe-se que não nos é dada tanta importância quanto imaginávamos que tivéssemos. Ligo o rádio, como, rio, danço, pulo, e nada de o sono vir. Sou mesmo um insone. Tantas pessoas angustiadas no mundo, atormentadas com a própria situação ou com a dos outros.
Disseram-me que este país é campeão mundial em "cuidar da vida alheia". Não acreditei. Pus-me num aquário, estou de azul. Subi até a água-furtada e verifiquei o brilho da lua. Deixei as cortinas da sala adejando... Ponho ou não a pinta?
Meu olhar está risonho ou choroso? Não o do quadro, o que vejo agora no espelho. O do quadro... não acredito que tenha pintado um auto-retrato!
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