AUTO-RETRATO
Bárbara Helena

Tenho gnomos na minha vida e isto é o principal. Também tenho tranças de paixão que continuo tecendo, especialmente na madrugada. Vejo a luz da alvorada com seu olho rosa me chamando, mas há muito entendi sua inverdade. Quero a irrealidade, quero ser Dulcinea del Toloso, quero moinhos de vento. Por sobre tudo, amo. E amando acredito na impossibilidade que é o encontro de dois seres humanos, alma com alma. Mas por enquanto vou comendo você, deixo a lua no céu e pretendo bem pouco além de muito prazer. Muito prazer, querido, aqui estou eu, de novo, nestas mal-traçadas, tentando entender o seu mistério. Os gnomos sabem de tudo, mas preferem ignorar, como eu, a realidade, ou preferem se trancar na inútil busca de um sentido perdido. Sei bem que a certeza não existe, que a realidade é ilusão. Sei isto há muito mais tempo do que deveria. E Leonard Cohen gemendo Dance me. Dance-me, eis a questão. A única possível. Dance-me e tudo ficará perfeito, as peças se encaixarão no quebra-cabeças provisório e naquele instante sutil seremos felizes. Ser ou não ser prática e banal? Existo aqui, neste momento branco em que estou só e dançam-me as palavras? Ou sou apenas uma sugestão possível de mulher, alguém que se pretende, areia de ampulheta que já escorreu mas deixa sua marca sobre o vidro? Questões inúteis, como é inútil estar aqui, sendo. 

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