O SÍNDICO
Argento
 

Provavelmente seria mais uma daquelas reuniões chatas de condomínio. Aqueles moradores iriam mais uma vez reclamar de alguma festa com som alto, de um vizinho do andar de cima que fazia barulho ou de algum cachorro do proprietário do apartamento ao lado.

- Deus do céu, pai! Dai-me forças pra agüentar!

Não precisaria comparecer, não tivesse aceito ser o síndico daquela cabeça de porco. Tavares se sentia nessas horas a besta do ano, mas tinha concordado em assumir aquele mal fadado posto devido a problemas financeiros, visto que dessa forma, não precisaria arcar com a conta do condomínio.

Fizessemos um auto-retrato da vítima, este seria mais ou menos assim:

Feio, careca, pobre, barriguinha de chope e ainda por cima casado com um "tribufu"! Também quem iria querer aquela mala sem alça, não fosse outra?

Preparou a documentação necessária àquele compromisso penoso, o qual ele rezava que começasse o mais rapidamente possível, posto que já estava louco pra chegar em casa e desfrutar das "geladinhas" que o estavam esperando a sorrir. Graças a Deus, nesse abençoado dia, a companheira iria dormir na casa da sogra!

Chegou ao local marcado, olhou o relógio, precisão britânica, eram exatamente dezenove horas. Não deu mais que dois minutos e chegou o sub-síndico. O tesoureiro apontou no recinto, dois dedos de prosa depois. E assim foi chegando aquele pessoal chato a acompanhá-los numa sinfonia irritante, feito música de maestro sem talento.

- Meu Deus, mais uma "pentelhação" na minha vida já tão sofrida! - pensou nosso impaciente protagonista.

De repente chegou uma princesa linda, mais parecendo uma miss Brasil. Olhava pro Tavares e piscava-lhe o olho, se abrindo toda feito uma rosa que acabara de deixar de ser botão.

Tavares passou a se sentir o rei da alegria. Aquela menininha linda como uma flor do campo dando sopa. A patroa na casa da chatinha, ops quer dizer, da sogrinha. Tudo corria de forma perfeita, era dia do feioso tirar o atraso.

Mestre Tavares tratou então de investir fortemente naquela aventura. Tudo corria as mil maravilhas, com nosso herói beijando sua rainha.

Num piscar de olhos Tavares despertou. Sua esposa roncava feito um cão gripado, triste realidade: Tavares ficou como uma estrela sem céu, ou melhor dizendo, sua estrela foi pro "beleléu"...

 
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