LOUCO!?
Adriana Vieira Bastos
Intrigado, começou a prestar atenção. Andavam delirando sobre sua pessoa, e isto lhe causou uma certa admiração. O que andara fazendo de tão diferente para passar a fazer parte do imaginário de tanta gente?
Sabia gostar de induzir a reflexão, até andava pregando, por onde passava, a tal da união. Sabia ser um assunto estranho o exercício da solidariedade, mas, daí a acharem que estava sofrendo alguma insanidade?!
Ria muito quando o chamavam de eterno adolescente, como se não estivesse adequado ao presente. Tudo porque se dava ao direito de encontrar o prazer na simplicidade. Será que este prazer tinha a ver com pouca idade? Arteiro, chegou até a questionar o que era amadurecer? E não é que não souberam lhe responder...
Até baseado apostavam que usava. Só porque fechava os olhos e com seu instrumento musical numa viagem única entrava. Não acreditavam que pudesse, de cara limpa, este prazer vivenciar. E o engraçado é que sua saúde só lhe permitia um refrigerante tomar. Como este povo era reprimido, daí sua alegria natural não fazer muito sentido.
Eterno sonhador, acreditava no amor, por mais que, às vezes, lhe causasse muita dor. Apostava na possibilidade de um mundo melhor e por esta idéia brigava, com todo o seu suor. Recusava-se a simplesmente passar inerte pela vida. Enfrentava com garra seus medos e suas feridas.
Desde cedo, soube que um caminho árduo iria percorrer. Percorrer com o risco de não agüentar e quem sabe até ensandecer. Mas, corromper-se jamais, pois disso sabia ser capaz.
Para ele, o mundo era um rio rebelde, cheio de correnteza e sabia precisar, a cada momento, manter em alerta à sua esperteza. Gostava do desafio, embora, às vezes, sentisse, no corpo, um enorme calafrio. Aliás, nadar contra a maré era seu grande exercício de fé.
Cansado, às vezes, chegava a esmorecer, dando-lhe medo do que pudesse lhe acontecer. Mas, bastava encontrar, no meio do caminho, alguém com vontade de suas idéias compartilhar, para sentir que valia a pena continuar. Continuar e, renovado, seu desejo de paz propagar.
Louco, alienado, adolescente, chapado ou simplesmente um doce sonhador? Que horror! Sabia que estas divagações, por onde passasse, iria despertar. Aprendera com a mediocridade conviver e até suportar. Só não iria se sujeitar a depender de aprovação. Daria um não a esta mania de rotulação.
Poderia até, às vezes, se sentir ilhado, mas jamais um pobre coitado. Sabia ser diferente. Então, só lhe restava sorrir e dizer a todos, à sua volta:
"- Bola pra frente!".
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