ELA SABE QUEM SOU!
Adlai Hoartmann
Ela com a minha escova de dentes, anda de um lado para o outro, para lá e para cá, de calcinha de algodão e asinhas de penas brancas, os seios livres como dois bebês, gordos e rosados, atrapalhando minha leitura diária dos fatos. Habita meu silêncio com graça, cheiro de sabonete pela casinha, ruídos macios de leve soul, Ella a ecoar pelo radinho de pilha pendurado na cozinha. Risada de entremeio, prazer de ouvir, ereções fáceis. Felicidade se é assim, não sei. Mas algo assim delírio que fala baixo a voz baixa, grave como um acidente vascular cerebral. Ela não me chama pelo nome,
muito íntima para essas formalidades, os dois olhos doces que me pintam com as cores que ela quer me pintar, vontade, acho que é isso, eu tão menos eu, eu quase nada de mim, agora eu sou apenas aquilo que ela me vê, sou doce ou salgado ao sabor da língua dela. meu nome não me define, me assinala tão somente, meus 32 dentes, vinte dedos, um par de pulmões, um coração no meio, um sobrenome, um pênis. Então ela me chama de "Amor, vem aqui escovar meus dentes?"
*ao som de Marvin Gaye
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