AMOR
BRUTO
Reinaldo de Morais Filho
Não tive escolha: enfiei a mão no cangote da menina e puxei-a com força em direção a meus lábios sedentos de beijo. Nem senti os dentes arrancando a carne, rompendo a língua.
O beijo estava dado; o tapa na face, idem.
Quando menos imaginei curadas as chagas, a menina me olhou diferente, pediu para conversar comigo, pediu desculpas pelo tapa.
- E pela mordida nos lábios?
- Desculpe-me.
Então, dei um beijo furioso em sua testa, no nariz, na boca. Quase lhe arranquei os cabelos enquanto sugava as últimas veias sadias do seu pescoço, enquanto lhe entrava no corpo com igual volúpia com que ela me entrou com seus dentes em meu lábio.
Contudo, sabe-se, com o tempo os dentes não mais cortam, as unhas não mais arranham. Queria um colo, ofereci um cafuné. Prendi sua perna em minha segurança - mas nem eu sou tão seguro, nem sua perna tão covarde.
Ela quis outro, um vizinho que lançou olhares devoradores. Não ofereci resistência: larguei-a aos lobos para comer mais tarde a fria e saborosa carniça.
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