QUEM AMA O FEIO
Adriana Vieira Bastos

Só podia estar a perigo! Esta era uma certeza que trazia sempre consigo. Mulher tinha que ser turbinada e muito sarada. Tinha que ser bela e do corpo não podia se descuidar, se quisesse ter o prazer do seu olhar. 

Sabia que podia se dar ao luxo de qualquer mulher esnobar, pois, ainda assim, existia uma lista de mulheres que consigo queriam ficar. Era bonito e desse fato podia se gabar. Tomava até cuidado para metido a narciso não ficar. Mas que era difícil, isso era, não podia negar. 

Eis que a mãe chega em casa com uma amiga, cuja beleza não era seu forte. Aliás a moça era feia de morte. Sentiu que aquele seria um dia de fazer uma boa ação. E por que não?! E se pôs com ela a conversar. E que surpresa! O que seria um fardo, agradável passou a ficar.

Sem perceber, sobre sua vida e seus sonhos mais íntimos, para ela, se viu a contar e ela, ouvindo atentamente, o estimulava a continuar. De um jeito meigo, sua inteligência demonstrava e, com ela, cada vez mais se encantava.

Quando deram por si, era término da madrugada. Assustados, despediram-se contrariados. Um beijo arriscou e um desejo incontrolável dentro de si despertou. Quase pirou! Ansioso, mal deu tempo dela em casa entrar e, pelo telefone, se viu a convidá-la para um novo jantar.

No dia seguinte, porém, sentiu um desconforto no ar. "— E aí, que gata você conseguiu pegar?", foi a primeira coisa que o amigo resolveu perguntar. Desconcertado, não sabia como essa novidade iria ao amigo contar.

Pensou um pouco mais e desesperado se viu a ficar. Será que os Céus estava a lhe castigar? Como fora, do nada, por uma feia se apaixonar? Devia ser algum trabalho feito por alguma despeitada que com ele não conseguiu ficar. 

Decidiu da "bruxinha" desencanar. Como é que, com ela, pelas ruas iria andar? Lembrava-se daqueles que vivem se desculpando pelos feios que para amar vivem arrumando. Esse mico não estava a fim de pagar, pois tinha uma imagem a zelar. 

Excesso de beleza poderia ser o antídoto que estava a precisar. Resolveu o mulherio da lista de espera a limpo passar. E passou! Passou, se fartou e perdeu as contas de com quantas mulheres lindas transou. Mas, nada disso adiantou. Quando para casa voltava era pela bruxinha que seu solitário coração ansiava. 

E, pela primeira vez, deixou de considerar a mulher como simples mercadoria. A beleza só pela beleza não mais lhe satisfazia. Algo mais queria. Depois de muito resistir resolveu a toalha jogar e pediu para a sua bruxinha de novo o aceitar. Sabia que só ela faria sua vida mudar. 

Depois de muito esperar, ao vê-la, deu-lhe um sorriso e longamente a beijou. Quando o beijo terminou, feliz, a olhou. Do mesmo jeito ela estava: feinha como sempre a achava. 

Quando os amigos resolvessem, sobre a beleza, consigo zoar, já sabia o que falar: "— Quem ama o feio simplesmente ama!". Descobriu que com o amor não se barganha!".

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