ENCONTRA-SE DESAPARECIDO
Nelson Moraes

"Encontra-se desaparecido. Se está desaparecido, como é que se encontra? Pois se se encontrou, deixa-se de desaparecer. Não bastaria colocarem no aviso apenas 'desaparecido'"?

"Talvez".

"Mas pode ser reflexivo, talvez. Se dizemos que ele se encontrou, podemos estar nos referindo ao problema da identidade: desencontros existenciais. Ele se perdeu e acabou se encontrando. Confere?"

"Pode ser."

"Mas se ele se encontra, resolve seus questionamentos existenciais, mas continua desaparecido, o problema continua — não?"

"Talvez."

"A menos que ele tenha se encontrado, mas prefira continuar desaparecido. Para poder curtir melhor, na solidão, a magnitude da auto-descoberta. Como é que chamam isso? Solisp — sopsi — " 

"Solipsismo."

"Isso. Temos um solipsista — é isso? — que, auto-desencontrado, acabou se achando e, na solidão, saboreou o esplendor de si mesmo."

"Quem sabe?"

"Eu, por exemplo, me vejo em um questionamento existencial. Estou tentando a todo custo me encontrar: não sei se sou personagem de carne e osso ou uma mera escada retórica para sejam desfiadas, através de mim, as suas elucubrações sobre este cartaz de 'Encontra-se Desaparecido' à nossa frente — e você fique aí, só nessas respostas comodamente monossilábicas."

Pausa.

"Pode ser."

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