SANGUE
FRITO
Marta Rolim
Procura-se paz entre os poços de petróleo, mas um fio de
laser corta a escuridão e vai pousar no peito de um homem.
Procura-se bombas ativas no deserto, mas lá só há montes de suspeitas. Arenosas, borrifam o ar com suas partículas
grudentas, contaminando as máscaras de gás.
Procura-se um SIM na ONU e lá as faces estão todas pétreas, embora as mãos e as pernas tremam e os lábios secos orem.
Quem não tem medo do senhor de fronte estreita e miudinhos olhos azuis? Aquele que ganhou uma eleição tendo perdido as
urnas (onde foram parar as malditas urnas?).
Não é preciso procurar, o medo está aqui e lá, pregado às lápides da imaginação, nem um pouco surreais.
Procura-se pão e mel, mas a promessa é outra. Há sangue frito para hoje, e não adianta chorar.
Procura-se quem diga NÃO, procura-se quem saia de casa e não se acostume com os gritos (os gritos de horror).
Procura-se paz entre os ossos d'óleo, mas um risco atômico vara a multidão e vai pousar no peito de um homem.
Procura-se pombas brancas no deserto, mas lá só há montes de suspeitas.
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