WARLOC
Eduardo Prearo

Não procuro ninguém. No momento, estão ou são todos iguais, insuportáveis. Eles têm a assustosa necessidade de mostrar que sabem de minha vida. Mas agora sei que estão certos, pois acabo de descobrir que cometi mais erros. Céus, quanto descuido! Enfim, as restrições aumentaram e é muito bem-feito. Tento desabafar com qualquer pessoa e sinto que minha voz está desiderativa.

Esse "não procuro ninguém" talvez seja óbvio para alguns. Mas quem sabe é mentira minha, quem sabe no íntimo eu esteja querendo ardentemente alguém em meus braços, algum chamego, alguma coisa assim... Pois tudo o que faço ou falo é criticável, quase que absolutamente tudo. Mas não é somente por isso que me isolo, e isolar-se é algo pesado.

Procuro um emprego digno em vez de uma pessoa digna. Eu bem que podia dizer isso, como estou dizendo agora. As filas para a conquista de emprego estão imensas e isso é até bonito neste país, é até poético. Mas não procuro nada nem ninguém. Putz, que letargia! Vou à praia e descubro meu corpo, descubro que não sou aquele tipo atraente, musculoso. Não me vejo dando um murro num homem e muito menos numa mulher. Isso dá cadeia, não é? Mas não me vejo agressivo, creio que eu seja uma pessoa pacífica. 

Oro pra Santa Maria Madalena. No passado era assim, as pessoas me olhavam e proferiam o nome dessa prostituta como se ela tivesse o poder de me salvar. Vai ver tem mesmo. Deixo a comida no fogo e peço a Deus que dê uma olhada enquanto vou tomar banho; afinal, se as pessoas olham para mim dizendo "Deus está vendo!", então aproveito e peço a Ele que dê uma olhada na comida enquanto tomo banho. Ridículo, não? Serei um caso psiquiátrico simples menos do que uma idiossincrasia?; se bem que uma idiossincrasia pode ser uma caso psiquiátrico simples.Ter fé é acreditar no invisível; então creio que Santa Maria Madalena esteja agora ao meu lado me orientando quanto a não pecar de forma alguma. Procuro por ela, ah, me dê um sinal, minha santa! Por que sabem mais dos meus pecados do que eu mesmo? Isso é um mistério, e mistério é uma palavra que desgosto um pouco... está meio que ligada à perfeição das pessoas. Uns dizem que as pessoas perfeitas não estão mais vivas, outros se regozijam por estarem se esforçando muito, por estarem tentando chegar à perfeição. Posso realmente ficar tranqüilo, pois nada do que escrevo atingirá quem quero atingir, ou seja, os tipos que quero atingir. Não quero, na verdade, atingir ninguém, não sou um míssil.

Mas minha vida está sem finalidade, não tenho uma finalidade que realmente valha a pena! Pensei em fazer oceanografia, acho uma profissão interessante, mas depois desisti, tem que prestar vestibular e acho que jamais passaria. É, pelo visto sou idealista... ou, materialista. Já tentei e nem mesmo na primeira fase passei. Não sei se por causa da burrice ou por causa dos métodos de estudo. Vai se fazer o quê? Não se nasce gênio, mas também não vou reclamar disso. Se eu fosse um gênio teria um carrinho, mas nem isso. 

Não procuro ninguém. Talvez eu procure a perfeição. E como Warloc, um conhecido aí, que disse ser uma pessoa perfeita, pretendo um dia ser o mesmo sem precisar dizer que sou, sem precisar dizer: Eu sou, Eu sou, Eu sou!!!

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