SERÁ?
Ana Terra

Esperei a vida toda por você. Teve épocas que achei que você estava comigo. Mas estava enganada. Você é cheio de disfarces, nuances, sutilezas. É preciso de muita observação para te perceber. Às vezes você chega dando-me a impressão de que é enorme. Pura ilusão. Você se mostrou discretamente, mas minha ansiedade te fez grande. Não suportando tamanha expectativa, você me deixou. Com o tempo, aprendi que você não usa máscaras. É puro. Sou responsável por todas as alucinações que tive, pensando que você estava comigo. Mas não me arrependo. Fui feliz, ou pensei ter sido, sofri, desesperei e me conformei com sua falta. 

Agora sinto sua presença a se insinuar novamente. Você percebeu que estou mais madura. A ansiedade e as expectativas não mais me comandam. Não estou exigindo nada de você e nem impedindo que você se faça presente.

Confesso que tenho um pouco de medo de você. Fiz de você o responsável pelas cicatrizes que guardo. Peço desculpas. 

Agora, neste final de dia, sinto sua presença. Tímida. Criança de olhos verdes me sorrindo. Sinto que a criança também está assustada. Não sei quantas cicatrizes ela fabricou em seu nome. 

Estou me sentindo diferente. Você vem chegando diferente. Sem pressa. Como estivesse preparando seu ninho. Sei que gosta de tranqüilidade, alegria, segurança. 

Só te peço uma coisa: tenha paciência comigo. A porta está aberta, mas não escancarada. Deixei só uma fresta. Por ela você pode entrar um pouco a cada dia. Da forma que quiser. Não estipule tempo. Não me deixe sonhar demais. Vou tentar dar longas férias para a ilusão. 

Cuide bem da criança de olhos verdes, mas dê total liberdade a ela. Se você encontrar sua porta fechada, não insista, por favor. 

Não sei o que vai acontecer desta vez. Aliás, nunca soube. Mas confio em você. Sei que estou em boas mãos.

fale com a autora

Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.