OLHA QUE EU PROCUREI
Adriana Vieira Bastos

Há vinte anos morando em São Paulo, percebi estar surtando com a falta de segurança quando pedi aos meus filhos que evitassem a rua de casa, por causa dos assaltos constantes, e eles me responderam rindo e perplexos: " — Como vamos chegar em casa, Mãe?"

Com a maior cara de "tacho" dei a mão à palmatória e decidi aceitar a sugestão do maridão de procurarmos um lugar mais seguro em busca de uma vida com mais dignidade.

Pensei em Campinas: cidade do interior metida a Capital, com direito até a um "congestionamentozinho" para não me sentir um peixe fora d'água. Eis que, surpreendo-me com uma série de denúncias acusando-a de ser um ponto estratégico na rota do tráfico de drogas. E não é que até mataram o prefeito?!...

Assustada, resolvi mudar a "minha rota" e da Anhanguera fui parar na Dutra em busca do meu elo perdido: a cidade de minha infância e adolescência. Encontrei-a quase do mesmo jeito que a havia deixado, há 24 anos atrás: a mesma praça, o mesmo banco, mas, com uma amiga morando em frente à segurança máxima da cidade — a Delegacia Seccional de Policia. 

A sensação de sentir-me protegida me fez ousar e abrir mão do controle de segurança que havia desenvolvido nas ruas de São Paulo - fecho o carro, volto para ver se fechei e depois retorno para ter certeza se voltei para ver se fechei. Parece complicado o procedimento, mas a gente aprende rápido. Quanto maior o tempo na capital, mais você vai se aperfeiçoando. Tem gente que volta umas oito, outras umas dez vezes. 

Sentamos no sofá, entramos em clima de "recordar é viver" quando, de repente, passamos a ouvir uma baixaria absurda na rua em frente à Delegacia de Polícia. Teve de tudo: gritos, pontapés, mãe chorando, mãe sendo derrubada, gente correndo por toda a rua, a turma do deixa disso, a turma do empurra, a turma do separa. Só não teve a presença de algum policial para restaurar a ordem pública. 

Arrasada, constatei: minha cidade tinha o mesmo banco, a mesma praça, mas, havia sido contaminada pelo vírus do descaso contra a segurança de seus habitantes. Indignada, resolvi não aceitar mais essa vida insana e lembrei-me de um São Tomé das Letras, um lugarejo simples, localizado no alto de uma montanha mágica.

E não é que chegando lá soube que, dias antes, um duende fora visto correndo pela cidade, constrangido e enrolado numa folha de bananeira: suas vestes tinham sido furtadas por um forasteiro "folião". 

Alguns ufólogos informaram-me que até os "Extras Terrestres" desviaram a rota de pouso para duas montanhas selvagens, ainda não explorada pelo homem, afinal, com essa onda de assalto, nunca se sabe...

Retornei à Sampa com menos esperança do que saí, com mais descrédito no país em que vivo e questionando um pouco mais: " — Segurança onde está você? E com a minha vida, o que vai acontecer?"·

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