OS GALHOS
EM FESTA...
Sonia
Lencione
Sempre adorei o silêncio. Sempre.
Quando menina me isolava das pessoas.
Procurava lugares solitários para pensar, sonhar.
Algumas pessoas gostam da agitação, do barulho. Eu já gosto de ambientes calmos.
Fui uma criança privilegiada porque fui criada num lugar maravilhoso. Cheio de recantos que minha alma pedia.
Amava os livros desde muito nova e amava pensar, divagar, viajar...
Aqueles anos tiveram um grande peso em minha vida porque formaram a minha personalidade.
Vivo contando em prosa e verso da terra onde nasci, da terra onde fui criada e não me canso jamais de tocar no assunto.
Para quem nunca esteve lá, para quem não nasceu com uma alma como a minha talvez até fique meio incompreensível esta minha paixão pelos lugares do passado, pela menina que eu fui.
Como o passar dos anos me chegou a compreensão da vida. Fui entendendo o porquê de ter nascido lá, o porquê de ter vivido lá, e o porquê de não me desligar nunca de tudo que se passou.
O passado não volta, mas guardamos com carinho as recordações boas.
E quando existiu tanto encanto!
Como é gostoso fechar os olhos e voar para lá. Rever pessoas queridas que já partiram. Sentir aquele cheiro de capim recém cortado, sentir o orvalho na grama, o perfume das rosas, dos lírios.
As jabuticabeiras floridas.
Nem que eu viva cem anos me esquecerei das jabuticabeiras floridas, as abelhas... os galhos em festa.
As mangueiras, as pêras maduras.
O abiu tão amarelo no alto da árvore, os cafezais floridos.
As borboletas, os beija-flores.
As bananeiras... como aquelas folhas me assustavam à noite. Eram os meus fantasmas. As sombras... fecho os olhos e ainda as posso ver.
As cabras... o fogão de lenha. Aquele som do moinho em atividade.
O barulho do riacho. Os bambuais...
E o silêncio sob as árvores. O silêncio que só os pássaros interrompiam.
Este é o mundo que eu guardo dentro de mim.
Eu precisava dele para guardar para todo o sempre.
Nasci lá, me criei, me mudei. A vida deu tantas e tantas voltas.
Tudo mudou. Mas não dentro de mim.
Tudo está intocado.
É um templo. É sagrado.
Guardo com carinho as minhas horas de silêncio... as minhas asas que nasceram tão cedo.
Ninguém rouba o que guardamos dentro de nós. Nossos sonhos são nossos. E o passado também nos pertence. Ele conta a nossa história.
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