ESPINHAS E PONTO FINAL
Reinaldo de Morais Filho

Quando as palavras se atropelam nas cordas vocais, nada mais racional do que se calar em silêncio absoluto. De pouco servem o silêncio com resmungos, o silêncio molhado de lágrimas, o silêncio vazio ecoando um agudo grunhido na lama.

Quando as palavras se acotovelam embaixo da língua, os versos saem tortos, como que escritos de forma apressada no bondinho do pão-de-açúcar para anunciar uma importante descoberta a alguém lá em cima — mesmo que tenham sido pensadas as frases em seus recônditos detalhes.

Outro dia engoli a seco uma comida japonesa que implorava um banho de shoyu; não lhe dei as águas negras do óleo, prendendo-me no mastigar sofrível para esquecer minhas dores.

De minha frente, lançava-me curioso olhar a moça que carreguei para o jantar, percebendo meu engasgar com o salmão inofensivo — sem saber que não era o peixe causador das tribulações, mas as vírgulas, o trema, o ponto final.

Tanta coisa para falar. E a certeza de que tudo me correria dos lábios de trôpego espírito, em angústia, em lágrimas. Seria dizer "te amo" e pedir perdão; dizer "te quero" e ficar de joelhos.

Seria oferecer a mão forte-segura-de-homem, gritando "me ajude".

Pedi um saquê e lembrei que as desculpas não apagam o erro, que persiste em cicatriz branca profunda e interna. Pedi a conta e lembrei que outras moças sem ferimento algum jantariam comigo, que existe peixe espinhento próprio para o engasgo, que as palavras só existem para soar.

Quando há muito para se dizer, o melhor é quebrar o encanto: mudar de mesa como quem muda de mulher, mudar de casa como quem muda de vida, mudar de versos como quem muda de amor.

Quando as palavras se atropelam nas cordas vocais, nada mais racional do que se calar em silêncio absoluto, para não ter que contar mentiras em voz alta para si mesmo, como se fosse uma mãe cuidadosa a colocar o filho para dormir, narrando-lhe contos fantásticos.

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