POR
TRÁS DA VIDRAÇA
Raquel Santos
O que posso dizer de nós se você se foi, tão de repente, solitário?
Perdeu-se nos seus medos, nos seus anseios e eu não podia ouvir seu coração.
Os gritos aflitos não alcançavam, as horas já eram mortas e eu morri com elas.
Seu silêncio me incomodava, fazia um eco ensurdecedor.
Eu já não podia suportar.
Abafei o som do infinito e simplesmente já não voei como antes fazia.
Em um instante me lembrei de todo aquele ruído, daquele vai e vem, quando o sorriso daquele menino me encantou.
Beijei um adolescente e ele se apaixonou.
Promessas de um intelectual e sonhos de juventude.
Fugi da criança e me aproximei do homem.
Como confundi a mulher da vida daquele garoto, com a paixão do homem da minha vida.
Acima das escadas uma meiguice de bebê.
Abaixo das escadas era você, por trás da vidraça.
Outra vidraça e a incômoda distância de te escutar de tão perto.
Esta já não era minha nação.
Amei sua bandeira e sofri os males da sua, da nossa pátria.
Quis ultrapassar a vidraça e estar contigo, você não deixou.
E eu fiquei, tão de repente, solitária!
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