SILÊNCIO...
O ANJO ESTÁ DORMINDO...
Mairy Sarmanho
Nunca mais ouvir sua voz, tocar seus cabelos de rolinhos prateados, seguir seus conselhos ou ignorá-los totalmente, duelar com palavras para descobrir, mais à frente, que ambos tínhamos razão. Tenho de me contentar com o silêncio rondando a vida, trôpego, cansado, vazio de argumentos ou considerações. Tenho de me contentar em sobreviver, apenas, porque não posso mais sentir seu olhar iluminado, suas fantasias quase infantis, suas reclamações coerentes, seu riso que soava como milhares de guisos aos meus ouvidos. Quero lhe encontrar na próxima vida ou, ao menos, em outra vida, em outro labirinto de buscas e achados, em outro caminho, em outra existência porque essa, para nós, não tem mais vez: da morte não tem volta e o silêncio é um adeus sem despedidas: quieto, fugaz e determinado a nos calar para sempre.
O silêncio resvala pelas madrugadas insones onde fico pensando... Pensando sem chegar a conclusão alguma, mergulhando nos meus medos individuais, indagando o sentido ou a ausência completa dele. Gostaria que tudo fosse diferente, que houvesse mais tempo, que as coisas não se interrompessem com um simples ato de violência. Mas a vida é assim mesmo e Deus não quer despertar os anjos adormecidos. Por isso, apenas por essa razão, eu tenho de conviver com o silêncio e sobreviver. Porque amanhã ou depois, com certeza, eu também me transformarei apenas em silêncio!...
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