A MELHOR TERAPIA
HOLÍSTICA
Jayson Viana Aguiar
Janete, atendente na recepção daquela clínica, viu o rapaz entrar logo que começou o expediente. Recebe-o com um sonoro bom dia e um largo sorriso. Fê-lo sentar em uma cadeira à sua frente, porém, antes, enquanto ele ainda estava em pé, realizou todo um levantamento visual do moço: cara abatida de quem está com fome, e que denota prostração; roupas simples e descuidadas como de humildes, e que indicam desleixo por depressão. Abriu outro sorriso, desta vez não para ser simpática, mas por pura satisfação consigo, pois, com um olhar, conseguia colher informações suficientes para a esfola da vítima, aliás, para o tratamento do paciente.
— O senhor veio ao lugar certo — foi ela dizendo sem que o outro tivesse ao menos aberto a boca
—. Ao sair daqui, sentir-te-á uma nova pessoa. O que procuras para teu tratamento?
— O sorriso continuava tão farto como a falsidade —. Temos a meditação, reiki, massoterapia, shiatsu, acumpressura, toque de borboleta!
Uma vez que o rapaz permanecia calado, silencioso, sugerindo indefinição, ela continuou:
— Spa dos pés e das mãos, alongamento, reflexologia, bioenergética, radiestesia, aromoterapia, cromoterapia?
Como resposta não veio mais que o silêncio, e Janete já suspeitava que, talvez, o cliente para a esfoladura, melhor, para a terapia, não fosse tão fácil assim de ser conquistado.
— Osho pulsation, renascimento, musicoterapia, leitura da aura, efluviografia, leitura de chacras, projectiologia, sinais precursores, diagnósticos visuais, terapia com ofurô?
E, visto que nenhuma das opções pareceu comover o rapaz, demovendo de seu silêncio, ela foi para a cartada final, um verdadeiro apelo:
— Simpatia, descarrego, fechar o corpo, benção de rezadeira maranhense, magia contra mal olhado, banho com chá de arruda
—. Quando ela fechou as últimas ofertas, não tinha mais o sorriso falso no rosto, mas uma expressão de quem vê mato do qual não sai coelho. E foi em silêncio que ela viu o moço puxar do bolso um adesivo do Gasparzinho e entregá-lo por sobre a mesa. Atrás do adesivo, um carimbo dizia que ele era surdo e mudo e que queria um real como ajuda. Janete guardou o adesivo e deu o dinheiro para ele; afinal, aquela cara de fome talvez fosse cara de fome mesmo, e, certamente, a roupa simples não era por causa de depressão.
O moço, então, abriu um mero sorriso: o real ganho foi uma ótima terapia.
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