EM NOME DO AMOR
Adriana Vieira Bastos
Irritada, levantou-se da sala em direção ao computador. Afinal, ele transformara-se nos últimos tempos no seu maior confessor. Escutava-a com a maior calma, parecia entender o que se passava dentro de sua alma.
Tudo que queria, com ele falava, ou melhor, teclava. E como teclava! E o computador não fazia cara de horror. Não lhe colocava freios, nem vinha com reprimenda do tipo
"- Menina, vê se se emenda!".
Não agüentava mais tamanha ansiedade. Seria crise de meia-idade? O marido, enclausurado no seu próprio silêncio, não a percebia e, deste fato, ela se ressentia.
Desolada, sentia, muitas vezes, medo de não ter forças para este círculo vicioso desmontar. Rezava, pedia aos santos, fazia de tudo para se acalmar...
Quando a situação apertava, até se perguntava: será que não estava bancando a adolescente? Será que não estava agindo de forma imprudente?
Num determinado momento, achou por bem se acostumar com o que a vida lhe oferecia: tinha um bom marido; que mais queria? Quem sabe seu grande exercício era aprender a levar a vida em banho Maria? Pavio curto, porém, não pôde aceitar esta proposta. Achou uma agressão.
Decidida, e pela milésima vez, chamou o marido para o papo do qual já era freguês. Precisavam passar a limpo a relação. Do jeito que andava não dava mais não. E não é que dessa vez ele não recusou! Também andava insatisfeito, a ela retornou.
E pela primeira vez realmente conversaram e a um ponto comum chegaram: não conseguiam se entender, isso era fácil de se ver. Ele gostava do silêncio e preferia a solidão, enquanto ela vivia em permanente ebulição. Quando tentavam se comunicar, notavam que o desejo de cada um não conseguiam captar.
Com os olhos marejados, renderam-se a triste conclusão: eram muito diferentes, e esta diferença é que causava toda a confusão. Condoídos sabiam que algo precisavam fazer, enquanto amor ainda havia no coração.
Ela o amava tanto que resolveu deixá-lo só no seu canto. Cabisbaixa, levou apenas seu pranto. E ele tanto sabia este amor corresponder, que a viu sair de sua vida sem nada fazer. Calado, sentiu não ter o direito de vê-la sofrer ao seu lado. Hoje, à distância, sabem que tiveram um gesto de quem ama de verdade. Quem ama não causa ao outro a infelicidade.
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