ENTENDEU, MINHA BENZUCA?
Míriam Salles
Fedorento é um adjetivo danado de feio, mas em alguns casos, é bem adequado. PÁra na ponta dos dentes e depois explode, impregnando tudo com mau cheiro, como o ciúme. Esse, quando pega, pega de jeito mesmo. E essa coisa melada, visguenta e fedorenta anda me pegando.
Não é aquele clássico, passional, aquele que até a lei protege. "Matei por amor." Fácil, não é? Mata-se por muita coisa, por fome, miséria, desespero, falta de objetivos, mas por amor não se mata. Por amor se guarda, se protege, se encaixa o ser amado no espaço que houver, se envolve com o corpo inteiro.
Pois o meu ciúme é de outro tipo. Não que seja menos fedorento. Ciúme sempre é fedido. O meu é aquele que aparece quando percebo que deixei de ser exclusiva ou quando percebo que falhei com meus amigos. Amores também são amigos, não sabia? Filhos também. Para amar, é preciso saber antes amigar. E a diferença é tão, mas tão pequena, que quase ninguém percebe. Amar é fácil, é só sentir. Amigar é que é bem mais complicado. Há uma infinidade de pequenos detalhes, nuances suaves de frases e gestos permitidos e proibidos no conjunto que compõe as amizades.
Eu sei, eu sei, estou te doutrinando, tentando te passar os meus valores, mas não é isso que mães fazem? E se eu não fizer, quem vai fazer? Quais os valores básicos, "defaults", você vai assumir? Precisa ter algum para poder optar por qualquer outro. Precisa ser amada para poder aprender a amar. Precisa ser amiga para poder ser filha e, precisa também sentir meu ciúme para um dia aprender a ciumar. Espero que nesse dia, quando sentir, mesmo sabendo que é amada com todo a certeza do seu ser, que teve que dividir o tempo de alguém com outro alguém, que saiba se comportar. E que não deixe seu ciúme empestear o mundo com seu mau cheiro, mas que o transforme em pétalas enciumadinhas que possa jogar sobre seus amados delicadamente, sem feri-los, só para cutucá-los.
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