NOVELAS, HISTÓRIAS E DOENÇAS DE AMOR
Larissa Schons

Quando penso em cenas de ciúme logo me vem a cabeça as novelas do Manoel Carlos. É clássico as cenas de ciúme doentio das personagens Paula em História de amor, Laura em Por amor, Débora em Felicidade e Íris em Laços de família. Suas Helenas parecem estar em meio ao fogo cruzado. Sempre na mira dessas mulheres apaixonadas que vão até a última conseqüência para ficar e poder dispor de um relacionamento vindouro com o ser-amado. Em todas as tramas elas sofrem grandes perdas e os telespectadores, que não podia ser diferente, geralmente, querem vê-las mortas e enterradas, de preferência.

Castigo do autor? Justiça divina? O certo é que essas mulheres completamente cegas de ciúme não estão só no papel. Há muitas Paulas, Lauras, Déboras, por aí. Como também há muitos homens que sofrem desse mal. Nas novelas não me lembro de alguém que tenha me chocado profundamente. Os que não me saem da memória fazem parte dos clássicos da literatura brasileira e portuguesa, principalmente. Quem não se lembra de Bentinho, nosso eterno casmurro, que aos poucos foi destruindo-se por essa doença de amor. 

Da ficção a realidade é triste ver como as pessoas são levadas e vão transformando-se, enlouquecendo-se, violando-se. Achar que ciúme é gostoso, é tempero, é prova de desvelo pra mim não passa de um erro. E que me perdoem os mais românticos, isso não é amor. Ciúme é defeito, pecado, doença, menos prova de amor. 

Amar é ter segurança, respeito, companheirismo, o revés do ciúme. Exemplos, tenho aos montes, inclusive em casa, minha mãe sempre cercou meu pai de zelo e de zelos. Está nessa sutil pluralidade a resposta de tudo. O Aurélio nos traiu. Atribuiu ao zelo um sentimento contraditório. E aí para o equívoco, um passo. 

"Maria é apaixonada por José. Estão sempre juntos. Não se desgrudam um só segundo. Ela faz tudo por ele. Não é lindo?" 

"Pedro é louco por Isabel. Quando estão juntos sempre demonstra estar preocupado com ela. Ou com suas roupas, seu visual, ou com os olhares alheios. Tem prova de amor maior do que esta?" 

Histórias que ouvimos, presenciamos, vivemos no dia-a-dia. Características como dedicação, carinho ao extremo, vigilância, máxima preocupação, falta de liberdade resultam no ciúme. Ser zeloso é atribuir o bem e o mal. Do bem o zelo, do mal os zelos. Desse bicho todos temos. Uns mais, outros menos. E isso até o Pai dos burros, sabe. Abafa!

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