VENTO
Ana Terra
Conheci o vento. Em todas as suas nuances: temperamental, livre, calmo, ondulado, brisa, furacão, calmaria, forte e, muitas vezes, frágil. Filho indomável da Natureza. Foi difícil aprender a conviver com ele. Suas mudanças não acompanham previsões.
No início me perdi no vento. Nunca sabia em que direção ele viria. Não avisava antes o seu estado de espírito. Simplesmente chegava. Envolvia-me ou me desprezava. Entendi então que o quanto de liberdade ele exalava. Passava voando na minha frente não deixando rastros.
Conheci o vento calmo. Aquele que ficava horas conversando mansamente comigo. Até o dia amanhecer. Palavras cheias de poesia. No fim da madrugada ia embora. A minha janela ficava aberta e a minha rede era embalada por ele até o dia amanhecer.
Às vezes vinha em ondas que acariciavam meu corpo. Ficava nua e ele passeava sem pudores por todo o meu corpo. Abria os braços, fechava os olhos e me deixava levar.
O furacão me enlouquecia. Tinha a estranha mania de aparecer quando minha alma estava no deserto. Ficava presa no redemoinho, cega e com os olhos ardendo da areia que ele levantava. Era difícil sair dali. Nunca sabia o tempo que ele tinha. Quando, finalmente, ia embora, deixa-me exausta, sem forças para continuar.
Amava a brisa. Ela aparecia depois de atos de amor. Enxugava lentamente nossos corpos molhados. Com carinho e ternura. E se transformava em calmaria.
O vento forte me deixava curiosa. Quando corria, deixando apenas seu perfume no ar, sabia que estava em conflito com seus opostos. Era o vento horizontal que ia de um lado a outro, varrendo tudo o que encontrava pelo caminho.
Frágil também. Um sopro quente no meu rosto depois de uma explosão de amo. Meu corpo que estava inerte vibrou. Hoje não sei onde ele está.
E aprendi a amar este vento. De uma forma toda especial. E, para minha surpresa, passei a sentir ciúme do vento. O que ele procura quando voa em direção aos seus opostos? Estou cega no meio de um furacão.
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