CORTINAS
Pedro Brasil Jr

Uma das maiores invenções do homem é, com toda certeza, a que menos tem importância perante sua utilidade: as janelas!

De todos os tamanhos, com parapeitos largos ou com vitrôs gigantescos; ou aquelas com venezianas delicadas que nada perdem para os janelões de vidros espelhados. Ah! Tem ainda aquelas janelas tão simples - verdadeiros buracos - dos barracos das favelas. Sim!.. é preciso que haja uma janela em todo lugar!

Como não ter uma visão esplêndida do mar ou da serra? Como se imaginar sem esta passagem escancarada para o desconhecido bem ali, à frente de nossos olhos?

E como não deixar escapar a chance de ver pela moldura aquela bela escultura mulher?

Janelas são muito mais do que arranjos da arquitetura e muito mais ainda do que uma necessidade de permitir a entrada da luz e do ar. Janelas são segredos abertos e fechados a sete chaves. 

Mas como estar aberto algo que está fechado?

Muito simples; afinal, uma janela precisa de uma cúmplice para se tornar indiscreta ou misteriosa. Quantos olhos já ficaram pela fresta da cortina espiando namoradinhos no portão? Ou vendo com bom interesse a vida alheia corroer com o tempo?

Cortinas coloridas, de cetim ou algodão. Cortinas encardidas em tecidos vulgares. Cortinas transparentes, tão ardentes quando silhuetas se entrelaçam no melhor ato da peça.

Cortinas que escondem o intrometido e que aguçam sentidos alheios.

Janelas e cortinas são um par sem igual! São invenções incomparáveis e no entanto, não passam de ser simplesmente janelas e cortinas...

Mas a janela nos permite vislumbrar outras cortinas, como aquela dourada num entardecer que aos poucos vai dando lugar aquela escura com estrelas a brilhar. E tem ainda as cortinas de pássaros, milhares deles em bando, de um lado para outro.

E o que dizer então das gotículas cristalinas que a chuva apresenta ou então a fumaça das indústrias que paira no ar como ameaça derradeira?

Cortinas de fogo, cortinas de água, cortinas de cores, cortinas de horrores, cortinas enfim...

Cortinas que balançam com o vento e permitem, da rua, que possamos ver na janela a morena de seios fartos com seus cabelos a esvoaçar. Nem Da Vinci pintaria tela tão original, tão bela, tão provocativa...

Cortinas italianas ou gregas que se abrem para o espetáculo, o teatro, a imitação da vida.

Cortinas que aqui e agora, sopradas pelo vento, invadem minha mesa, rebuscam meus papeis, me acariciam parte do rosto e voltam sorrateiras à janela. Porque lá fora, diante de tantas janelas, a vida se agita como um pequeno barco à vela em meio as ondas do mar.

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